A Cidade Morena chega aos seus 126 anos com ativos importantes no mapa e nos indicadores brasileiros: posição estratégica, qualidade de vida e uma base educacional capaz de sustentar um salto em inovação (universidades, parque tecnológico), empresas inovadoras e um número crescente de startups, já são 336, conforme o Observatório de Startups do Sebrae. Tudo isso configura um ecossistema de inovação em plena expansão. A pergunta não é “se” a capital de Mato Grosso do Sul pode ocupar esse lugar, mas sim “quando” e “como”.
A vocação logística de Campo Grande é amplamente reconhecida: entroncamento rodoviário que conecta o Centro-Oeste ao Sudeste e à fronteira sul-americana; proximidade com cadeias agroindustriais; aeroporto com potencial de cargas; e a perspectiva de consolidação de corredores bioceânicos, encurtando o caminho entre o Atlântico e o Pacífico. Essa lógica de “meio do caminho” transformou-se em vantagem competitiva em uma economia movida por dados e produtos de alto valor agregado.
Ao integrar essa malha física a uma malha digital robusta, desenha-se o perfil de um hub capaz de hospedar data centers regionais sustentáveis, de baixa latência, voltados a serviços financeiros e de governo digital; plataformas de rastreabilidade de origem — do boi ao biodiesel; e centros de integração logística que combinam sensores em campo, inteligência artificial para previsão de demanda e gestão de transportes em tempo real. O agro 5.0, a bioeconomia, a biotecnologia e a indústria de software sob demanda encontram em Campo Grande um verdadeiro laboratório a céu aberto, com oportunidades constantes.
As “dores” das cadeias agropecuária, florestal, de proteínas e de energias renováveis são, na verdade, grandes oportunidades a serem solucionadas. O ambiente regulatório, que já conta com um plano climático para o agronegócio, fortalece esse cenário. Startups podem nascer mais fortes quando encontram clientes “vizinho de porta”, capazes de validar rapidamente soluções inovadoras.
Mas o que falta para a cidade consolidar-se como um polo tecnológico de destaque? Além dos incentivos fiscais — como a redução da alíquota do ISSQN para startups e empresas de tecnologia (aprovada pela Câmara, mas vetada pela Prefeitura) — é necessário mais investimento. Apesar de editais de entrada bem estruturados, como os programas Centelha e Tecnova, executados pela Fundect, ainda falta o “depois”: fundos semente e rodadas Série A/B dedicados à tese Centro-Oeste/Bioeconomia/Agrotech, com coinvestimento privado e governança profissional.
A fronteira do avanço não é apenas geográfica, mas tecnológica: sensoriamento de pastagens e florestas por satélite; identificação individual do gado para mercados premium; bioinsumos rastreáveis; verificação de créditos de carbono; controle inteligente de pragas; manutenção preditiva de frotas; monitoramento de pontes e estradas; e simulação de rotas com IA para reduzir emissões. Tudo isso exige dados, conectividade e equipes de engenharia — e tudo isso tem aderência direta à realidade de Campo Grande e de Mato Grosso do Sul.
Nesse contexto, o Parque Tecnológico de Campo Grande (ParkTec-CG) pode consolidar-se como uma das principais ferramentas de avanço tecnológico do Centro-Oeste, acelerando soluções baseadas em teses de inovação claras e direcionadas para a realidade local.
Campo Grande tem atributos concretos para liderar a fronteira entre bioeconomia, agro digital e logística 4.0. O que separa a vocação da liderança é a execução disciplinada: capital paciente, compras de inovação, talentos seniores, infraestrutura logística e uma marca internacional. Aos 126 anos, a capital pode continuar sendo apenas um entroncamento ou tornar-se o ponto de convergência onde conhecimento, dados e mercadorias se encontram para gerar valor de alto impacto para Mato Grosso do Sul e para o Brasil.
É hora de escolher a segunda opção, com metas, prazos e coragem, para transformar Campo Grande na capital da inovação tecnológica.