A Bolívia realizou neste domingo (19) o segundo turno das eleições presidenciais, pela primeira vez na história do país em que um pleito presidencial é decidido em dois turnos. Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), venceu o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da aliança Libertad y Democracia (LIBRE), com 54,53% dos votos válidos, contra 45,47% do adversário. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) proclamou o resultado oficial na noite de domingo e confirmou a vitória de Rodrigo Paz.
O resultado do segundo turno também marca o fim de quase 20 anos de hegemonia do Movimento ao Socialismo (MAS), fundado por Evo Morales, que governou o país entre 2006 e 2019. O primeiro turno ocorreu em 17 de agosto, quando Paz liderou com 32,02% dos votos, seguido por Quiroga com 26,70%. Nenhum candidato obteve a maioria absoluta, o que levou à realização do segundo turno.
Rodrigo Paz, de 58 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR). Nascido na Espanha durante o exílio da família, retornou à Bolívia na infância e construiu sua carreira política em Tarija, importante região produtora de gás. Foi vereador e prefeito de Tarija pelo Partido Democrata Cristão (PDC), deputado pelo PDC e, mais recentemente, senador pelo departamento de Tarija, integrando a aliança Comunidad Ciudadana (CC), liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa.
Durante a campanha presidencial, Paz apresentou como principais propostas o fortalecimento do setor privado, sem recorrer a empréstimos de organismos internacionais, a descentralização do orçamento nacional e a manutenção de programas sociais. Seu plano de governo, chamado Agenda 50/50, propõe dividir igualmente os recursos públicos entre o governo central e as entidades regionais e universidades, além de criar programas de crédito acessível e incentivos tributários para pequenos investidores. Outro eixo central de sua plataforma é a reforma da Justiça e o combate à corrupção.
O futuro presidente herda um cenário econômico desafiador. No primeiro semestre, a economia da Bolívia teve recessão de 2,4%, registrando sua primeira recessão em quase quatro décadas. A produção de gás caiu e o país enfrenta escassez de dólares, o que fez subir os preços de produtos e combustíveis. Essa combinação de fatores têm prejudicado o poder de compra da população e dificultado a produção de alimentos, o que agravou os problemas sociais e econômicos do país.
Longas filas nos postos de gasolina e diesel se tornaram comuns, e tendem a durar até três dias para motoristas de ônibus e caminhões. A falta de combustíveis impactou diretamente a produção de alimentos, e produtores do leste do país afirmam que o setor agropecuário está “à beira de um ponto sem retorno”. A inflação anual, em setembro, atingiu 23,32%, e refletiu em uma combinação de desvalorização cambial e escassez de insumos básicos.
Após a divulgação do resultado preliminar, Paz afirmou que sua vitória não é pessoal, mas do país, e estendeu a mão ao rival, Jorge Quiroga. O presidente eleito terá como prioridade imediata lidar com a crise de abastecimento, estabilizar a economia e implementar medidas que permitam a recuperação gradual do setor produtivo e do poder de compra da população, ao mesmo tempo em que busca manter programas sociais essenciais. A eleição histórica do segundo turno boliviano contou com votação em papel, registrada manualmente pelos mesários e enviada ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) para apuração e divulgação dos resultados.
Com informações CNN