Vivemos um momento curioso. Nunca foi tão fácil se conectar e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil se relacionar. No universo pessoal, as plataformas nos aproximaram de milhares de pessoas. A logística do encontro mudou, a distância encurtou, e as possibilidades se multiplicaram. Ainda assim, ter mais caminhos não garante que cheguemos juntos ao destino. A inovação abre portas, mas nem sempre ensina a atravessá-las.
Esse fenômeno não se restringe aos afetos. O mundo dos negócios respira a mesma tensão: empresas cada vez mais ágeis, clientes que exigem personalização, colaboradores em busca de propósito e líderes tentando equilibrar velocidade com proximidade. Surge o paradoxo da escolha. Ter muitas opções é extraordinário, mas pode se tornar fatigante. Quando tudo é possível, escolher vira um fardo. No campo emocional, isso gera insegurança e a sensação constante de que talvez exista “algo melhor”. Consequência? Menos investimento na construção de vínculos duradouros.
Nas organizações, o efeito é semelhante. Com tantos canais digitais, ferramentas, metodologias, fornecedores e oportunidades, instala-se a volatilidade. Troca-se rápido, escolhe-se sem aprofundar, muda-se antes de amadurecer. Se tudo é substituível, por que aprofundar? Automatizamos, aceleramos, enxugamos tempo. Ganhamos eficiência, mas perdemos espessura. Relações sejam de amizade, trabalho ou consumo, continuam exigindo algo incompatível com atalhos: presença, escuta, cuidado. Em um mundo onde o tempo é comprimido, atenção se tornou luxo. E, como todo luxo, virou diferencial competitivo.
Fala-se muito em “gerar valor”. Mas valor não é apenas entregar mais rápido, mais barato ou mais digital. Valor é entregar significado. Isso nasce do encontro: funcionários que se sentem vistos, clientes que percebem que alguém realmente se importa, marcas que conversam com gente de verdade, e não apenas dados. A tecnologia nos dá alcance; o humano nos dá impacto. O desafio contemporâneo não é escolher entre tecnologia e contato humano; é integrar os dois. Usar o melhor do digital, escala, automação, eficiência, sem abrir mão do melhor do presencial: nuances, gesto, afeto.
Se as ferramentas multiplicam as conexões, nossa responsabilidade é torná-las significativas. É escolher qualidade sobre quantidade. É transformar interação em relação. A tecnologia mudou a estrada, mas o destino continua sendo o mesmo: gente que encontra gente, com verdade. No fim, é simples e trabalhoso: olho no olho, cuidado, presença. Porque, apesar de vivermos cercados de algoritmos, o que ainda move a economia, a inovação e a vida, é a mesma matéria-prima de sempre: confiança
O futuro é digital no meio, e profundamente humano no fim.














