Leandra Costa

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Vivemos um momento curioso. Nunca foi tão fácil se conectar e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil se relacionar. No universo pessoal, as plataformas nos aproximaram de milhares de pessoas. A logística do encontro mudou, a distância encurtou, e as possibilidades se multiplicaram. Ainda assim, ter mais caminhos não garante que cheguemos juntos ao destino. A inovação abre portas, mas nem sempre ensina a atravessá-las.

Esse fenômeno não se restringe aos afetos. O mundo dos negócios respira a mesma tensão: empresas cada vez mais ágeis, clientes que exigem personalização, colaboradores em busca de propósito e líderes tentando equilibrar velocidade com proximidade. Surge o paradoxo da escolha. Ter muitas opções é extraordinário, mas pode se tornar fatigante. Quando tudo é possível, escolher vira um fardo. No campo emocional, isso gera insegurança e a sensação constante de que talvez exista “algo melhor”. Consequência? Menos investimento na construção de vínculos duradouros.

Nas organizações, o efeito é semelhante. Com tantos canais digitais, ferramentas, metodologias, fornecedores e oportunidades, instala-se a volatilidade. Troca-se rápido, escolhe-se sem aprofundar, muda-se antes de amadurecer. Se tudo é substituível, por que aprofundar? Automatizamos, aceleramos, enxugamos tempo. Ganhamos eficiência, mas perdemos espessura. Relações sejam de amizade, trabalho ou consumo, continuam exigindo algo incompatível com atalhos: presença, escuta, cuidado. Em um mundo onde o tempo é comprimido, atenção se tornou luxo. E, como todo luxo, virou diferencial competitivo.

Fala-se muito em “gerar valor”. Mas valor não é apenas entregar mais rápido, mais barato ou mais digital. Valor é entregar significado. Isso nasce do encontro: funcionários que se sentem vistos, clientes que percebem que alguém realmente se importa, marcas que conversam com gente de verdade, e não apenas dados. A tecnologia nos dá alcance; o humano nos dá impacto. O desafio contemporâneo não é escolher entre tecnologia e contato humano; é integrar os dois. Usar o melhor do digital, escala, automação, eficiência, sem abrir mão do melhor do presencial: nuances, gesto, afeto.

Se as ferramentas multiplicam as conexões, nossa responsabilidade é torná-las significativas. É escolher qualidade sobre quantidade. É transformar interação em relação. A tecnologia mudou a estrada, mas o destino continua sendo o mesmo: gente que encontra gente, com verdade. No fim, é simples e trabalhoso: olho no olho, cuidado, presença. Porque, apesar de vivermos cercados de algoritmos, o que ainda move a economia, a inovação e a vida, é a mesma matéria-prima de sempre: confiança

O futuro é digital no meio, e profundamente humano no fim.

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Leandra Costa

Gerente Laboratório Aberto de Inovação - Living lab MS (Sebrae/MS). Formada em Administração e Comércio Exterior, com especialização em Gestão Global de Negócios, Politicas públicas para Mulheres, Mestranda em Desenvolvimento Local. Trabalha no Sebrae há mais de 24 anos, com vasta experiência em Atendimento, Mercado, Inovação e Tecnologia. Certificada em Mentoria de Liderança do Futuro e também Certificada em Gestão de Inovação, ambos pela GIMI - Global Innovation Managment Institute de Boston/EUA. | @lecosta_ms
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