MIRIAM ABREU

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Estamos nesta semana diante de uma das avaliações nacionais mais importantes do campo educacional brasileiro, o ENEM.

Há mais de duas décadas o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio avalia o desempenho escolar de estudantes ao final da Educação Básica. Este se tornou a principal porta de entrada para o ensino superior por meio do SISU – Sistema de Seleção Unificada e de iniciativas como o Prouni – Programa Universidade para Todos. Tanto as universidades públicas quanto privadas utilizam esse resultado como critério único ou complementar de seus processos seletivos, servindo, também, de parâmetro para acesso a auxílios governamentais como o Fies – Fundo de Financiamento Estudantil.

Além do mais, o resultado individual do ENEM pode ser aproveitado nos processos seletivos nas instituições educacionais portuguesas que tenham convênio com o Inep, permitindo assim, o acesso à educação superior em Portugal, graças a acordos existentes entre os dois países.

Observa-se um aumento no número de inscrições no ENEM nesses dois últimos anos, chegando a casa dos 5 milhões, embora a participação efetiva nas provas aponte um número relevante de abstenções. Infelizmente essa avaliação nacional ao final da educação básica brasileira tem revelado índices nada motivadores no que se refere à qualidade de nosso ensino.

Para se ter uma ideia, dos mais de 3,8 milhões de inscritos que realizaram as provas em 2024, somente 12 alcançaram a média máxima em redação. O menor número de nota 1000 em dez anos. Segundo informações do próprio Ministério da Educação, a pontuação das outras áreas do conhecimento ficou entre 495 e 529 pontos. A média geral em redação foi de 660 pontos.

Eis uma questão: Estes resultados ano após ano, com ínfimas variações, realmente revelam uma educação de qualidade em nosso país?

Corroborando com esses resultados do Enem, uma das mais importantes avaliações internacionais no campo da educação, o PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – aponta, também, um resultado desanimador para a educação brasileira.

A maioria dos alunos que participam dessa avaliação tem a idade de 15 anos, pois compreendem que estão próximos à finalização da educação básica. As áreas do conhecimento avaliadas são matemática, ciências e leitura. Nessa última avaliação, ocorrida em 2022 (atrasou devido à pandemia) apontou que sete em cada dez estudantes brasileiros não sabem resolver problemas simples de matemática.

Como parte do ciclo do Pisa em 2022, a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -, que é a responsável por essas avaliações, pela primeira vez aplicou uma prova específica para avaliar o quesito criatividade dos estudantes.  O resultado foi divulgado em junho de 2024. Participaram dessa avaliação 10.798 estudantes de 599 escolas brasileiras. Destes, 54% de nossos estudantes apresentaram baixo nível de criatividade. O mais alarmante é que 73% dos participantes apresentam desempenho insatisfatório nas habilidades em matemática. Esses resultados têm revelado que estamos muito distantes da média mundial apontada pela organização intergovernamental, OCDE – que é a responsável por essas avaliações.

Se analisarmos outras duas avaliações internas em nosso país, o Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica – e Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica -, observaremos que ambas têm revelado um declínio no desempenho dos estudantes. Sendo assim, não há dúvidas de que nossa educação brasileira está em colapso. Não há mais espaço para “maquiagem” de resultados.

É evidente que não se recupera resultados educacionais da noite para o dia. Porém, é urgente uma força tarefa de nossos gestores públicos, gestores educacionais e toda a comunidade escolar (professores, famílias e estudantes) para que o ensino em nosso país volte a ser minimamente de qualidade. A transparência nesse processo é bem-vinda e saudável. Saber quanto se investe, por que se está investindo e onde esse investimento está sendo alocado é de fundamental importância, visto que nossa sociedade está envolta a tantas corrupções nas mais diversas instâncias.

Quando falo em investimento, não significa somente investir estruturalmente, materialmente ou tecnologicamente, mas também investir em pessoas e aqui, destaco os professores que são a base, o alicerce de uma escola, como também, os estudantes. Sem estudantes e sem professores não há por que existir a escola.

Compreendo que educar vai muito além de se ensinar a ler, a escrever e fazer contas envolvendo as quatro operações. É formar cidadãos com princípios e valores que se tornarão – na essência da palavra – agentes de transformação em todas as áreas de nossa sociedade. Educar é formar, é transformar e isto não se faz sem investimento, e muito menos, sem a efetiva participação de todos os agentes responsáveis por tal ação.

Não me refiro a “remendos”, a ações pontuais – mas sim – a planejamento estratégico para curto, médio e longo prazo. Do contrário, continuaremos formando estudantes e por que não dizermos profissionais “semianalfabetos”, pois quem não consegue resolver questões básicas que envolvam conhecimento matemático, é porque não consegue compreender e muito menos interpretar o que se está solicitando em uma avaliação. Ou seja, o nível de leitura e consequentemente escrita desses estudantes e “profissionais” estão seriamente comprometidos.

Enfim, o ENEM – a mais importante avaliação ao final da educação básica brasileira –, tem nos revelado o que realmente tem se tornado a nossa educação…uma educação de resultados “medíocres”. Será que não somos capazes de virarmos esse jogo?! Eu sempre costumo dizer: “o conhecimento nos liberta de muitas amarras”, embora, por muitas vezes, este possa nos proporcionar angústias, pois passamos a ver e compreender o que muitos não veem e nem compreendem, porém…prefiro o conhecimento a viver à sombra da ignorância.

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Miriam Abreu

É doutora e mestre em Educação pela (UFMS). Especialista em Orientação Educacional e Psicopedagogia pela (UFRRJ/CEP-EB). Pedagoga habilitada em Orientação Educacional (FUCMT)  e Supervisão Escolar (Faclepp). Consultora Educacional, palestrante e escritora. | @miriam_abreu65
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