Leandra Costa

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Na última semana, ao passar pela página do Thalis Gomes, me deparei com uma provocação sobre pessoas que atrapalham a cultura e o desempenho das empresas. E trago aqui como ponto de partida para refletir sobre algo que tenho estudado de forma intensa: o impacto do comportamento no desempenho dos times. Não é exagero dizer que, em muitos casos, o maior risco para uma organização não é a concorrência, não é a tecnologia e nem o mercado, é aquilo que acontece silenciosamente dentro das equipes.

O Google, no conhecido Projeto Aristotle, analisou 180 times ao longo de dois anos e chegou a uma conclusão que deveria ser tatuada nas paredes de todas as organizações: a base da alta performance é a segurança psicológica. Quando as pessoas têm medo de falar, discordar, errar ou propor, o time inteiro se encolhe. A criatividade diminui, as conversas ficam superficiais e o potencial de inovação evapora. Esse medo é caro, e não apenas emocionalmente. Ele diminui resultados.

O que o Thalis trouxe, e que eu também observo, é que não é preciso um grande escândalo para a performance despencar. Muitas vezes basta um único comportamento corrosivo para desestabilizar o clima da equipe. Isso acontece de maneira tão gradual que quase ninguém percebe o estrago se formando. É como um copo de água que vai sendo contaminado gota a gota: quando se dá conta, já não é mais potável.

E por que isso importa tanto? Porque pessoas observam, absorvem e imitam. Em ambientes onde atitudes desrespeitosas, agressivas ou desmotivadoras são toleradas, a cultura vai cedendo. Primeiro no silêncio das reuniões, depois nos pequenos comentários, e por fim na perda de energia que faz com que o time só faça o mínimo necessário. Esse processo, que parece individual, vira coletivo rapidamente. Times se tornam reativos, não criativos. Entregam tarefas, mas não entregam ideias. Sobrevivem, mas não inovam.

Por isso, a discussão não é sobre “gostar ou não gostar de alguém”. É sobre entender que comportamento tem impacto econômico. Decisões que parecem pequenas, como ignorar uma atitude desrespeitosa, fingir que não viu um ataque sutil ou justificar impaciência constante como “jeito da pessoa”, acabam saindo muito caro. Tudo aquilo que a liderança tolera, ela ensina. Tudo aquilo que a equipe observa, ela replica. A cultura é formada pelo que acontece, não pelo que está escrito no mural.

E aqui está o ponto de reflexão que quero deixar: quando pensamos em inovação, costumamos falar de tecnologia, metodologias e projetos, mas raramente falamos de coragem. Coragem para dizer “isso aqui não condiz com quem queremos ser”. Coragem para proteger o ambiente de trabalho como um ativo estratégico. Coragem para valorizar quem soma, não só quem entrega. Porque entregar números sem entregar humanidade nunca foi, e nunca será, sustentável.

Se você lidera uma equipe, ou faz parte de uma, vale olhar honestamente para o que está sendo cultivado no dia a dia. Há espaço para falar? Há respeito nas discordâncias? Há energia para criar? Ou as pessoas estão caminhando com cuidado, medindo palavras, evitando conflitos e diminuindo sua potência?

Às vezes, basta uma pergunta bem feita para iniciar uma mudança. E talvez essa seja a pergunta da semana: estamos alimentando um ambiente onde as pessoas podem crescer ou apenas um espaço onde elas tentam não se machucar?

O comportamento é contagioso. A confiança também. A escolha, como sempre, está na liderança, formal ou informal, que existe em cada um de nós.

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Leandra Costa

Gerente Laboratório Aberto de Inovação - Living lab MS (Sebrae/MS). Formada em Administração e Comércio Exterior, com especialização em Gestão Global de Negócios, Politicas públicas para Mulheres, Mestranda em Desenvolvimento Local. Trabalha no Sebrae há mais de 24 anos, com vasta experiência em Atendimento, Mercado, Inovação e Tecnologia. Certificada em Mentoria de Liderança do Futuro e também Certificada em Gestão de Inovação, ambos pela GIMI - Global Innovation Managment Institute de Boston/EUA. | @lecosta_ms
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