Nioaque, a 180 km de Campo Grande, avança para se tornar o primeiro destino de turismo indígena estruturado de Mato Grosso do Sul. No último sábado (29), lideranças das etnias Terena e Atikum receberam o Plano de Visitação – Etnoturismo, documento elaborado ao longo de 11 meses e que agora aguarda anuência da Funai para permitir a abertura oficial do destino ao mercado turístico nacional e internacional.
O plano foi desenvolvido pelo Sebrae/MS em parceria com o Governo do Estado, por meio da Setesc, Fundtur-MS e Secretaria de Cidadania (SEC), e a Prefeitura de Nioaque. A consultoria, iniciada em janeiro de 2025, foi construída junto a cinco comunidades: Brejão, Cabeceira, Água Branca e Taboquinha (todas da etnia Terena) e Vila Atikum (da etnia Atikum).
A entrega ocorreu no Centro Comunitário da Aldeia Brejão, em evento que reuniu apresentações culturais, artesanato, grafismos e a dança Putu Putu. Também foram entregues certificados de cursos voltados à qualificação das comunidades em temas como condução em ecoturismo, fotografia, redes sociais, comunicação e empreendedorismo.
O diretor-superintendente do Sebrae/MS, Claudio Mendonça, classificou o momento como um marco para o Estado. “O turismo agora nasce do próprio povo, com valorização da cultura e protagonismo local. O plano estabelece bases concretas para o desenvolvimento sustentável e coloca essas aldeias no mapa do turismo de Mato Grosso do Sul”, afirmou.
O subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários da SEC, Fernando Souza, disse que o plano supre uma ausência histórica. “Os territórios sempre tiveram potencial. Faltava uma estrutura que profissionalizasse a oferta e desse segurança às comunidades. Este plano representa um passo essencial para transformar social e economicamente essas aldeias”.
Representante da Fundtur/MS, o indigenista Bolívar Porto destacou o caráter colaborativo da iniciativa. “A entrega marca o fechamento de uma etapa e, ao mesmo tempo, o início de um novo momento. Agora, cabe às comunidades darem vida ao que foi construído e seguirem avançando”, disse.
Mais de 300 pessoas participaram do processo de construção do documento, guiado pelos princípios da consulta livre, prévia e informada. O plano define diretrizes para segurança turística, governança, cultura, infraestrutura, operação de roteiros e empreendedorismo.
Entre as experiências previstas estão trilhas, rituais, culinária tradicional, dança e vivências de base comunitária. Projetos como a Casa do Hermogênio e o Camping da Dona Maria devem compor os primeiros roteiros. A Agência Comunitária de Turismo coordenará a operação e o marketing do território.
O cacique Ademir da Silva, da Aldeia Brejão, afirmou que o plano permitirá ampliar o alcance das tradições locais. “Nossa cultura sempre esteve aqui. Agora, poderemos mostrá-la ao mundo de forma organizada, com respeito e geração de renda. É um avanço para todas as aldeias envolvidas”.
Professor e integrante do Conselho Gestor de Turismo, Thiago da Silva descreveu o plano como a realização de um projeto de longo prazo. “Há oito anos sonhava com esse projeto. Ver nossa comunidade se reconhecer como protagonista de um turismo sustentável superou todas as expectativas. Estamos deixando um legado para as próximas gerações”, afirmou.
A jovem Talita Miranda, da etnia Atikum, destacou o impacto das capacitações. “Aprendi a valorizar nossa cultura e a enxergá-la como oportunidade de trabalho e dignidade para nosso povo”, disse.
O plano também oficializa a marca “NIOAC – Cultura Viva, Turismo Indígena”, que representará o destino. Segundo os idealizadores, a proposta articula ancestralidade, empreendedorismo e proteção territorial, consolidando um modelo de turismo de base comunitária que deve orientar a abertura das aldeias a visitantes nos próximos meses.
Com informações e imagem da Agência Sebrae de Notícias
