As Centrais de Abastecimento que representam quase metade do fornecimento de alimentos do país firmaram, na última quarta-feira (26), um compromisso com o Pacto Contra a Fome para reduzir o desperdício e ampliar a redistribuição de produtos. Entre as 15 unidades signatárias está a Ceasa de Mato Grosso do Sul, que terá papel estratégico na implementação do programa CEASA Desperdício Zero, iniciativa que busca evitar que alimentos in natura sejam descartados em aterros ou incineradores.
De acordo com a Abracen (Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento), as unidades participantes respondem por 49,75% do abastecimento nacional, movimentando quase 9 milhões de toneladas de alimentos em 2024. O objetivo é reestruturar políticas internas, fortalecer bancos de alimentos e organizar fluxos logísticos capazes de garantir que produtos fora do padrão comercial, mas ainda próprios para consumo, sejam destinados a famílias em vulnerabilidade social.
O Pacto Contra a Fome aponta que 55 milhões de toneladas de alimentos são perdidas no Brasil anualmente, um volume equivalente ao consumo anual de milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, 54,7 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar.
Para Maria Siqueira, cofundadora e co-diretora do Pacto Contra a Fome, a participação das centrais é decisiva.
“As centrais de abastecimento são fundamentais no combate à fome e na redução de desperdício de alimentos. […] São espaços em que a nossa visão de um Brasil sem fome pode começar a se materializar”, afirma.
Nas Ceasas brasileiras, o desperdício atual é de 2% das 17 milhões de toneladas comercializadas anualmente, mais de 340 mil toneladas de alimentos perdidos e um prejuízo estimado de R$ 1,5 bilhão por ano. Além disso, esse desperdício gera 510 mil toneladas de CO₂ jogadas na atmosfera.
O projeto quer reverter esse cenário: hoje, apenas 0,14% do total movimentado é redistribuído por meio de bancos de alimentos. A meta do CEASA Desperdício Zero é elevar esse índice para 0,6%.
Com a adesão das 15 unidades, a projeção é de que 53 mil toneladas de alimentos sejam resgatadas anualmente, o equivalente a R$ 233 milhões, beneficiando 122 mil pessoas por dia.
Em Mato Grosso do Sul, a Ceasa MS, uma das signatárias, deverá ampliar sua capacidade de coleta, triagem e distribuição. A unidade terá de seguir diretrizes como disponibilização de áreas exclusivas para descarregamento, estruturação de um banco de alimentos ativo e registro sistemático de dados sobre doações, volumes e beneficiários.
O estado, que tem forte produção e reúne pequenos e médios produtores, poderá se tornar um dos pontos-chave na meta nacional de alcançar 102 mil toneladas de alimentos redistribuídos nos próximos anos.
Compromissos firmados
A Carta Compromisso determina que as centrais adotem medidas baseadas em três eixos:
- Banco de Alimentos – Implantação ou reforço de estruturas dedicadas à coleta e doação de alimentos in natura, incluindo previsão de cozinhas experimentais e áreas de processamento mínimo;
- Logística e infraestrutura – Pontos de coleta mais eficientes, áreas de descarregamento exclusivas e rotas internas sinalizadas;
- Transparência de dados – Relatórios periódicos sobre recebimento, destinação e impacto das doações.
Além da Ceasa MS, aderiram as unidades de Pernambuco, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Caruaru, Salvador, Distrito Federal, AMA, Campinas, Santa Catarina, Espírito Santo, Ceará e Goiás.
Sobre o Pacto Contra a Fome
O Pacto Contra a Fome reúne organizações públicas, privadas e civis para erradicar a fome no Brasil até 2030 e garantir alimentação adequada a toda a população até 2040. A iniciativa atua em articulação, inteligência estratégica e incentivo para fortalecer políticas de combate ao desperdício.
“Temos convicção de que a meta é possível de ser cumprida se todos somarmos nesta causa”, afirma Maria Siqueira. “Governos, setor empresarial, terceiro setor e sociedade civil são imprescindíveis nesta jornada”.


















