A greve dos ônibus em Campo Grande (MS) começou nesta segunda-feira (15) e tem previsão de durar o dia todo, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (STTCU-CG). A categoria reivindica o pagamento integral do salário de novembro, além do adiantamento salarial e do 13º salário.
A decisão pela paralisação foi tomada em assembleia-geral realizada no dia 11 de dezembro. Na tentativa de evitar a greve, o Consórcio Guaicurus informou, em nota divulgada no fim da tarde de sexta-feira (12), que efetuou o pagamento de 50% dos salários atrasados. O repasse, no entanto, não foi suficiente para alterar a decisão dos trabalhadores.
A paralisação afeta mais de 100 mil pessoas que utilizam o transporte público diariamente na capital. Dados divulgados em agosto de 2025 pela Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb) indicam que o transporte coletivo de Campo Grande registra média de 116.166 passageiros por dia.
Entre os usuários, a greve reacende críticas antigas sobre a qualidade do serviço. Passageiros relatam atrasos frequentes, superlotação, falhas mecânicas e dificuldades para cumprir horários de trabalho, em um contexto em que o ônibus é o principal meio de locomoção para quem depende do transporte coletivo para chegar ao emprego.
A recepcionista hospitalar Késia Vasconcelos afirma que utiliza o serviço diariamente e que a irregularidade nos horários compromete a rotina profissional. Segundo ela, perder um ônibus significa esperar horas pelo próximo. “Sem transporte público, como as pessoas vão trabalhar? Às vezes não tem dinheiro pra chamar o Uber, às vezes não cabe no orçamento. Aí as pessoas acham que a gente vai fazer o que? Vai sair voando pra poder pegar o ônibus?”, questionou.
Apesar dos transtornos, parte dos entrevistados demonstra apoio à paralisação. A trabalhadora doméstica Izabel Maria avalia que os motoristas têm razão ao cruzar os braços diante do atraso salarial. “A gente tem que concordar também com eles. Do ponto de vista deles, a gente faria a mesma coisa”, afirma. Segundo Izabel, o movimento não deve afetar de forma significativa a sua rotina, a depender da duração da paralisação.
A funcionária de um estúdio de dança, Maria de Fátima Chaves, que também utiliza o transporte público, classifica a qualidade do serviço como precária e relata ônibus frequentemente quebrados, lotação excessiva e calor dentro dos veículos. Para ela, os motoristas também enfrentam dificuldades e não são os responsáveis pelas condições do transporte.“Eu concordo com eles, concordo com eles fazerem greve. Não sou contra greve não, é o direito que eles têm de recorrer pelo salário que eles não estão recebendo”, declarou.
Já Laura Barreto, que trabalha em uma esfiharia e utiliza ônibus diariamente, avalia que a greve pode trazer melhorias tanto para os usuários quanto para os trabalhadores e destaca que ninguém deve trabalhar sem receber. Pouco antes da entrevista, ela precisou trocar de ônibus após o veículo apresentar problemas mecânicos, o que resultou em tempo de espera no terminal. Em seguida, Laura aponta que o valor da tarifa não condiz com a estrutura oferecida. “Uma greve é necessária. Eu acredito que precisa haver mudanças, porque eles se arriscam, os motoristas também têm a sua família para manter, e ninguém trabalha de graça”, defendeu Laura.
*Matéria em atualização
**Foto de capa: Sandy Micaela

















