A greve dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande entrou no terceiro dia nesta quarta-feira (17) e mantém a suspensão do serviço, que afeta cerca de 110 mil usuários e traz prejuízo estimado de R$ 10 milhões ao comércio da capital. Mesmo após determinação da Justiça do Trabalho para o retorno das atividades, a categoria decidiu seguir com a paralisação, sob risco de multa diária de R$ 200 mil ao Sindicato.
Os motoristas do transporte coletivo decidiram manter a greve após audiência de conciliação realizada nesta terça-feira (16), que terminou sem acordo entre as partes. A deliberação ocorreu em assembleia da categoria, realizada na escadaria do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24), mesmo com a determinação judicial para que 70% da frota circulasse nos horários de pico e 50% nos demais períodos.
Na audiência, a Justiça do Trabalho também fixou multa diária de R$ 200 mil ao Sindicato em caso de descumprimento da decisão. Segundo o entendimento do Judiciário, o valor devido para o pagamento aos motoristas é de R$ 1,3 milhão, mas representantes do Consórcio Guaicurus e da Prefeitura de Campo Grande alegaram não ter recursos para quitar o montante de forma imediata, o que impediu o avanço de um acordo.
A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), afirma que o município está com os pagamentos em dia e classifica a paralisação como abusiva, por descumprir a decisão judicial que determinou a circulação mínima da frota. A declaração foi feita em vídeo publicado nas redes sociais da prefeita. Segundo ela, o pagamento de salários e do décimo terceiro é responsabilidade do Consórcio Guaicurus. “É o direito dos trabalhadores receberem o seu salário, o décimo terceiro. E a prefeitura não pode ser responsável pela má gestão dos recursos desta empresa. Nós vamos cobrar que o serviço seja retomado e que volte mais rápido”, afirmou.
O Consórcio Guaicurus afirma que a paralisação é consequência de um desequilíbrio financeiro acumulado desde 2022. Segundo o diretor-presidente do consórcio, Themis de Oliveira, o descumprimento do quarto termo aditivo do contrato, firmado em março daquele ano, gerou uma dívida estimada em R$ 39 milhões. De acordo com ele, a tarifa técnica do transporte é de R$ 6,57, enquanto o usuário paga R$ 4,95, diferença que, segundo o consórcio, deveria ser compensada pelo município.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram motoristas reunidos em frente ao Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24), em assembleia para deliberar se a greve continuaria ou não. Em um dos registros, trabalhadores afirmam que “o Consórcio Guaicurus não tem dinheiro para sair e não foi penalizado; a prefeitura não cumpre o que tem que cumprir e também não foi penalizada; só o trabalhador foi penalizado”. Entre as demandas estão o pagamento de salários e do décimo terceiro, que, segundo o sindicato, seguem em atraso.
Entidades do comércio destacam impactos da greve na economia da capital
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul (Fecomércio-MS) alerta que o período de fim de ano é estratégico para a economia de Campo Grande e que a paralisação do transporte coletivo compromete o funcionamento do comércio e a renda das famílias. A entidade estima que mais de R$ 250 milhões devem circular na economia da capital neste período, mas ressalta que milhares de trabalhadores dependem do transporte público diariamente. O presidente da Fecomércio-MS, Edison Ferreira de Araújo, afirmou que “fazemos um apelo responsável e respeitoso, que o diálogo prevaleça e que a greve seja resolvida o quanto antes. Garantir o transporte é garantir o futuro, o funcionamento da cidade, da economia e também da vida das pessoas”.
A paralisação também afeta diretamente o funcionamento das lojas e a rotina de trabalhadores do comércio, muitos dos quais dependem do transporte coletivo para chegar aos estabelecimentos. Segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campo Grande, a queda na circulação de clientes e funcionários prejudica especialmente o varejo nesta semana decisiva para as vendas de Natal, e impacta o faturamento e a movimentação econômica da cidade, que responde por cerca de 40% da economia de Mato Grosso do Sul.
Segundo o presidente da entidade, Adelaido Figueiredo, o impasse prejudica o setor produtivo da capital em um momento decisivo para as vendas de Natal. “Quero pedir coerência, por favor. O varejo da nossa cidade, o setor produtivo de Campo Grande, está sofrendo, está com muita dificuldade e precisa aproveitar a melhor data desse ano, que é o Natal, conhecido por todos como a melhor data do ano. Não adianta ruas iluminadas se nós não temos consumidores, se nós não temos pessoas circulando, se o trabalhador não consegue chegar no posto de trabalho”, afirmou.
Até o momento, não há previsão concreta para o fim da paralisação. Sindicatos e consórcio seguem sem acordo, e os motoristas afirmam que só retornarão às atividades após o pagamento das demandas pendentes, como salários e décimo terceiro. Enquanto isso, a população segue afetada, e o comércio da capital permanece em alerta devido à falta de transporte coletivo.

















