A pecuária brasileira, uma das maiores do mundo em volume e valor, ainda convive com um paradoxo gritante: a tecnologia nas cercas, mas não nos sistemas de gestão. Há GPS no trator, drone sobrevoando pasto, mas o controle do rebanho segue em planilhas caseiras, anotações manuais ou, pior, na memória do gerente.
É neste contexto que começa a ganhar espaço uma abordagem mais moderna da gestão pecuária, baseada em dados e integração entre processos. O ciclo produtivo do gado (que vai da genética ao abate, passando por reprodução, cria, recria e engorda) já pode ser acompanhado com precisão e controle, em cada fase, com apoio de soluções digitais. Mas poucos aproveitam esse potencial de forma estruturada.
A informação que o produtor não vê, custa caro. Custos de ração, tratos sanitários, perdas por mortalidade, ineficiência no manejo, erros de entrada e saída de animais, falhas na rastreabilidade são elementos que afetam diretamente o lucro da operação. E tudo isso pode ser evitado ou reduzido com ferramentas digitais que organizam, cruzam e disponibilizam dados em tempo real.
A gestão informatizada permite, por exemplo:
- Controlar o banco genético e os protocolos de inseminação com vínculo direto aos custos da operação;
- Gerenciar tratos alimentares, condições corporais e pesagens com dados precisos e históricos;
- Mapear eventos sanitários com registros fotográficos, alertas e diagnósticos em campo;
- Fazer controle de inventário de insumos e animais com rastreabilidade para exportação;
- Realizar entrada e saída de animais com integração a documentos fiscais, GTA e certificadoras;
- Operar em modo off-line em currais remotos, sincronizando dados posteriormente.
A digitalização não substitui o conhecimento do homem de campo. Na verdade ela o potencializa. É a combinação entre manejo tradicional e controle moderno que constrói uma pecuária eficiente, lucrativa e pronta para atender as exigências do mercado interno e externo, especialmente em temas como bem-estar animal, rastreabilidade e sustentabilidade.
O que impede a pecuária de avançar?
Esta é uma pergunta que sempre escuto. Para ser sincero, a resposta está menos na tecnologia e mais na cultura. A resistência à mudança, o medo de complexidade e a falsa ideia de que “a tecnologia não serve para fazendas pequenas” ainda bloqueiam o progresso. Mas quem já deu o passo rumo à informatização sabe: o retorno vem rápido, não só em produtividade, mas também em segurança na tomada de decisão.
Não basta ter gado de genética superior. É preciso ter gestão à altura. A pecuária do futuro não é só sobre pasto e arroba, é sobre dados, controle e visão estratégica