O envelhecimento da população é um fenômeno global, mas no Brasil ele tem acontecido de forma acelerada. Segundo dados do IBGE, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais cresce a cada ano, modificando a forma como se pensa em saúde, trabalho, lazer e assistência social. Celebrar o Dia do Idoso, nesta quarta-feira (1), é também refletir sobre o impacto dessa transformação social e sobre como garantir que os anos a mais sejam vividos com qualidade, autonomia e dignidade.
O historiador Henry Guimarães lembra que o Brasil vive hoje um processo de inversão da pirâmide etária. “A gente tem um salto aí de praticamente o dobro dos idosos no Brasil. O que era por volta de 8,5% foi para algo em torno de 15%, quase 16% da população brasileira. Em termos absolutos, isso significa um salto de 15 milhões para 30 milhões de idosos em pouco mais de duas décadas”, aponta.
Esse cenário traz avanços, mas também desafios. Para o geriatra Marcos Blini, o maior obstáculo da assistência ao idoso é manter a autonomia. “De nada adianta a pessoa viver muitos anos se viver com dependência, sofrimento e limitação da vida diária”. A médica geriatra Ana Sawaris reforça que a prevenção e o reconhecimento precoce de condições consideradas comuns como quedas, esquecimentos, dores crônicas e depressão são essenciais para evitar que o envelhecimento seja sinônimo de fragilidade.
O idoso de hoje não é mais o mesmo
Henry ressalta que o avanço da medicina, o acesso à informação e a tecnologia mudaram a imagem do idoso. “Os idosos hoje no Brasil já não são mais classificados como a gente imaginava naquelas plaquinhas de trânsito, que mostravam uma pessoa com 60 anos curvada, apoiada em uma bengala. Hoje temos pessoas nessa idade superativas, fazendo esportes, trabalhando, vivendo normalmente, porque se prepararam ao longo da vida para isso”.
A geriatra reforça que cada pequena escolha conta. “O prato de comida, a caminhada, a forma de lidar com o estresse, tudo é um investimento em mais anos de vida com qualidade”.
Marcos acrescenta que hábitos saudáveis na fase adulta são determinantes. “Quem envelhece bem, é porque foi ativo antes. O ideal é manter uma rotina com exercícios, cursos, trabalhos, voluntariado”, afirma.
Impactos sociais e econômicos
Se o envelhecimento saudável é um desafio individual, também há repercussões coletivas. Guimarães observa que a queda da taxa de fecundidade e o encolhimento das famílias têm efeitos diretos na população brasileira. “No século 20, era comum famílias numerosas, sempre cheias nas reuniões. Hoje as famílias são menores, e isso muda a forma de cuidado com os idosos. Com menos filhos, a sobrecarga recai sobre menos pessoas”.
Além disso, há o desafio previdenciário. “Quando temos uma população que envelhece e menos jovens nascendo, surge um problema. Ou trazemos esses idosos para trabalhar por mais tempo, ou precisamos reinventar a previdência. É um impacto que não é só do Brasil, mas de muitos países”, avalia.
Ciência e dignidade
Se por um lado surgem dificuldades, por outro os avanços da medicina ampliam possibilidades. “Hoje temos tratamentos curativos para muitos tipos de câncer, avanços em cuidados cardiovasculares e planos de exercícios específicos para idosos”, explica o médico geriatra.
Henry Guimarães lembra que o Estatuto do Idoso é uma referência internacional e precisa ser constantemente revisitado. “É uma Lei fundamental, mas diante dessa mudança demográfica, precisamos repensar políticas públicas e impactos econômicos para garantir que o envelhecimento seja acompanhado de dignidade”.
Um convite à reflexão
O Dia do Idoso, portanto, não é apenas uma data comemorativa, mas um convite para refletir sobre o presente e o futuro. Mais do que viver mais, é preciso viver melhor com saúde física, mental e social.
Como conclui a médica Ana Sawaris. “Envelhecer bem não é sorte. É cuidado, prevenção e investimento em um estilo de vida saudável”.
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