Recentemente, em uma final épica de Roland Garros, Carlos Alcaraz nos presenteou com uma virada histórica. Aos 22 anos, ficou quase seis horas em quadra, perdendo por dois sets abaixo. A maioria já havia desistido, mas ele não. Ele insistiu. Ele repetiu o óbvio que tantos abandonam, resiliência, foco, consistência. Imediatamente, me veio à cabeça outro nome que sempre cruzou meu caminho como observador do mundo, Cristiano Ronaldo. Aos 40 anos, acumula 938 gols e uma coleção interminável de títulos. Mas o que mais impressiona não são os números. É a disciplina quase irritante, como já li em algum artigo, que ele pratica todos os dias, mesmo quando ninguém está olhando.
Foi com essa mesma perspectiva que desembarquei em Nova Iorque para a NRF 2025 a maior feira de varejo do mundo e em Lisboa, para o Web Summit, o maior encontro de tecnologia e inovação da Europa. Em ambos os eventos, entre palcos grandiosos e palestrantes brilhantes, uma verdade simples se repetia o tempo todo, o futuro será de quem repetir o básico com excelência.
Na NRF, ouvi de líderes globais que mais do que inovação disruptiva, o que realmente move os negócios é a consistência na execução. Treinar a equipe todos os dias, testar, corrigir, testar de novo. Dados apresentados pela Forrester mostraram que empresas que adotam rotinas estruturadas de capacitação e feedback têm 35% mais chances de atingir suas metas de crescimento. Foi um lembrete claro de que o glamour das grandes ideias só se sustenta com a disciplina do dia a dia.
No Web Summit, ao discutir Inteligência Artificial, vi a mesma lógica se confirmar, não adianta ter tecnologia de ponta se a equipe não carrega uma cultura sólida de execução. Lembro bem de quando Peggy Johnson, CEO da Magic Leap, disse algo que ficou gravado em minha mente, “A inovação não acontece no palco. Ela acontece no dia a dia, quando ninguém está aplaudindo.” Volto sempre dessas jornadas de conhecimento com muitas ideias, mas uma certeza ainda maior, o extraordinário nasce da repetição diária do que parece banal. Seja em uma quadra de tênis, na rotina de um jogador lendário ou na engrenagem silenciosa de um negócio bem-sucedido, tudo gira em torno do mesmo eixo, fazer o necessário, mesmo quando não há vontade.
Assim como Alcaraz, que virou o jogo, e Ronaldo, que ainda corre com fôlego de garoto, as empresas que triunfam são aquelas que, todos os dias, repetem o essencial com disciplina, estrutura e consistência. Não é difícil fazer o extraordinário uma vez. Difícil é repetir o óbvio com excelência, dia após dia. Essa frase que esta presente na minha vida a muito tempo, ecoou nos bastidores da NRF, nos painéis do Web Summit e agora ressoa em um mundo cada vez transformado.
Enquanto muitos seguem correndo atrás de soluções mágicas ou da próxima grande tendência, o verdadeiro diferencial está, cada vez mais, em fazer bem feito o que já sabemos que funciona. Criar cultura, repetir a excelência, reforçar valores, disciplinar o time, observar resultados, corrigir, insistir, melhorar e recomeçar.
E você? Está repetindo o básico com excelência todos os dias? Sua equipe está preparada para entregar performance mesmo nos dias comuns? Qual parte da sua rotina está esperando mais foco e menos glamour? O futuro não será dos que fazem muito uma vez, mas dos que fazem o certo, todos os dias. E talvez, só talvez o extraordinário more exatamente aí.
DIJAN DE BARROS
