As chamadas “drogas do emagrecimento” — como Ozempic, Mounjaro, Wegovy e similares — ganharam as manchetes e as redes sociais. Mas será que elas são a chave para o corpo dos sonhos ou estão desencadeando uma nova crise de saúde? Neste artigo, vamos explorar juntos os mecanismos, evidência e riscos por trás desses medicamentos.
1. O que são Ozempic, Wegovy, Mounjaro e “emagrecedores da moda”?
- Ozempic (semaglutida): agonista de GLP-1 aprovado para diabetes tipo 2 e usado off-label (fora da indicação primária) para perda de peso.
- Wegovy (semaglutida em dose maior): aprovado especificamente para manejo de obesidade em pacientes com IMC ≥ 30 kg/m² ou ≥ 27 kg/m² com comorbidades.
- Mounjaro (tirzepatida): dupla ação como agonista de GIP e GLP-1, aprovado para diabetes tipo 2 e em estudos avançados para emagrecimento, mostrando perda de peso de até 20% em ensaios clínicos.
- Outros fármacos da mesma classe também têm sido pesquisados ou usados “off label” (fora da indicação) para emagrecimento.
Cada um atua de forma semelhante, reduzindo o apetite e retardando o esvaziamento gástrico, mas difere em potência, perfil de efeitos colaterais e custo.
2. Como funcionam: o papel dos hormônios no controle de apetite
- Os hormônios incretinos (GLP-1 e GIP) são liberados pelo intestino em resposta às refeições e comunicam ao cérebro a sensação de saciedade.
- Ozempic e Wegovy se assemelham ao GLP-1, enquanto Mounjaro combina a ação sobre GLP-1 e GIP, potencializando a redução da fome e a melhora do controle glicêmico.
- Além de diminuir a ingestão calórica, esses mecanismos ajudam na regulação da glicemia, razão de sua indicação inicial em diabetes.
3. Evidências de eficácia: o que dizem os estudos
- Ozempic/Wegovy: ensaios mostram perda de 10–15% do peso corporal em 6 meses, quando associados a dieta e exercício.
- Mounjaro: em estudos de fase III, pacientes obesos sem diabetes perderam até 20% do peso em 72 semanas, superando resultados de semaglutida em doses equivalentes.
- Em todos os casos, o acompanhamento nutricional e de atividade física foi e é parte fundamental do protocolo.
4. Limitações e preocupações clínicas
- Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, diarreia e desconforto abdominal, que podem comprometer a adesão.
- Custo elevado: o tratamento mensal pode ultrapassar valores inacessíveis sem subsídios.
- Recuperação do peso ao interromper o uso, mostrando que não há “cura” da obesidade, apenas controle temporário. O famoso “efeito rebote” em que se recupera todo ou até mais o peso que foi perdido.
5. O verdadeiro caminho: alimentação e movimento
Nada “queima” gordura de forma mais sustentável do que combinações inteligentes de comida de verdade e exercícios. Aprender a montar um prato colorido, rico em fibras, proteínas magras e gorduras boas, aliado a caminhadas, corridas, natação ou musculação, fortalece não só o corpo, mas a mente — criando padrões de saciedade genuínos e aumentando o gasto energético de repouso.
6. Pós-emagrecimento: a hora do teste de fogo
O grande desafio vem depois: manter a nova forma. Quem recorreu a Ozempic ou Mounjaro e não reformulou a rotina alimentar e de atividades físicas quase sempre vê a balança subir de novo. A adoção de práticas simples aliada ao acompanhamento nutricional e médico — preparar marmitas caseiras, reservar horários semanais para exercícios, monitorar porções e ter suporte motivacional — é o que realmente evita o “efeito sanfona”.
7. Riscos de uso indiscriminado e mercado paralelo
- A alta demanda criou um mercado de falsificações e doses não monitoradas, armazenamento e transporte totalmente inadequados, podem comprometer negativamente seus efeitos.
- Clínicas e influenciadores oferecem injeções fora das diretrizes, sem suporte multidisciplinar, aumentando riscos de complicações e desequilíbrios e efeito rebote.
8. Quem pode se beneficiar — e quem deve ter cautela
Indicados
- IMC ≥ 30 kg/m² ou ≥ 27 com comorbidades (hipertensão, apneia, diabetes).
- Adultos dispostos a manter mudanças de estilo de vida e manter acompanhamento com médico e nutricionista.
Contraindicações/precauções
- Gestantes, lactantes, histórico de pancreatite ou retinopatia diabética.
- Doenças gastrointestinais graves – como doença de Crohn, gastroparesia
- Crianças, adolescentes e pessoas com transtornos alimentares.
9. Impactos sociais e éticos
- A busca por “soluções rápidas” pode minimizar a importância de hábitos saudáveis — nutrição, exercício e bem-estar psicológico.
- Há o risco de reforçar padrões corporais irreais e estigmatizar quem não tem acesso a esses medicamentos caros.
- Profissionais de saúde enfrentam dilemas éticos sobre até que ponto atender à demanda sem promover medicalização excessiva.
Tenha cautela entre a promessa e o alerta
Ozempic, Wegovy e Mounjaro representam avanços notáveis no tratamento da obesidade, combinando eficácia na perda de peso e benefícios metabólicos. Porém, não são pílulas mágicas: exigem acompanhamento médico e de nutricionista (em alguns casos, gerenciamento psicológico para evitar efeitos adversos e dependência) que são cruciais para evitar efeitos adversos, recaídas e práticas de uso indevido.
Ao invés de buscar uma “injeção milagrosa”, vale perguntar: estou disposto a mudar o que como, como vivo e me movo? Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro podem ajudar a dar o pontapé inicial, mas não são substitutos de um estilo de vida equilibrado. Sem essa base sólida, qualquer perda de peso será temporária — e os riscos, muito reais. A verdadeira transformação acontece quando a seringa vira coadjuvante e o prato, os pés e a mente assumem o protagonismo.