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A intensificação das ondas de calor no Brasil tem levado famílias a buscar alternativas para reduzir as temperaturas dentro de casa sem depender exclusivamente do ar-condicionado. O alerta foi reforçado pela COP30, realizada recentemente no país, que estimou um possível aquecimento de 4°C a 4,5°C acima dos níveis pré-industriais, cenário que pode agravar noites abafadas, eventos extremos e longos períodos de calor acumulado.

Segundo especialistas, essa mudança na percepção do clima tem estimulado a valorização de projetos arquitetônicos que priorizam ventilação, sombreamento e materiais adequados. A arquiteta e urbanista Lusianne Azamor, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Estácio, afirma que entender de onde vem o calor é o primeiro passo para enfrentá-lo.

“A gente precisa controlar o ganho de calor que vem da radiação solar. O sol bate no telhado, nas paredes, nas janelas. Tudo isso esquenta e leva calor para dentro do ambiente”, explica.

Ela lembra que a origem do calor não é apenas externa. Dentro das casas, eletrodomésticos, lâmpadas e até as próprias pessoas geram calor continuamente.

“Nós, as pessoas, emitimos calor, e os aparelhos também. Televisão, lâmpadas, eletrodomésticos, por exemplo, geram calor”, diz.

Para Lusianne, a orientação solar da casa é determinante. No hemisfério sul, a fachada norte é a mais exposta ao sol ao longo do dia e costuma exigir atenção especial. Quartos são tradicionalmente posicionados no leste para receber o sol da manhã, considerado mais ameno. Já o oeste concentra a radiação mais intensa e, segundo a arquiteta, exige atenção redobrada.

“O oeste é aquela orientação que a gente tenta evitar. E quando não tem como evitar, usamos mecanismos como janelas com persianas, venezianas, brises, ou até uma barreira vegetal, com arborização e arbustos”, afirma.

A fachada sul, menos exposta, costuma ser mais fresca e permite janelas maiores, favorecendo ventilação natural e iluminação.

Vegetação como infraestrutura climática

Lusianne destaca que, no contexto de calor extremo, a vegetação não é apenas estética: é uma ferramenta estrutural de resfriamento urbano. “O verde faz muita diferença. Ele reduz a retenção de calor, melhora o microclima e pode transformar um ponto quente em um ponto de frescor”, afirma.

A arquiteta explica que a evapotranspiração, processo pelo qual as plantas liberam vapor de água, contribui para resfriar o entorno. Além disso, áreas sombreadas, permeáveis e com arborização quebram o efeito de ilhas de calor.

Ela cita que planos diretores de várias cidades já exigem arborização e áreas permeáveis como estratégia de adaptação climática. Dentro dos lotes, a presença do verde pode incluir jardins, áreas gramadas, arbustos, árvores e até soluções incorporadas à própria edificação.

“A gente volta para estratégias como telhados verdes e paredes verdes, que funcionam muito bem. A vegetação na própria edificação contribui para climatizar o ambiente e reduzir o calor interno”, explica.

Mesmo sem grandes obras, há medidas simples que ajudam a diminuir a temperatura interna. Entre elas estão pinturas externas claras, especialmente brancas, que refletem radiação; cortinas e persianas capazes de bloquear a incidência direta de sol; e mantas térmicas no forro, que reduzem o calor transferido pelo telhado.

Ventilação mecânica segue sendo uma alternativa, mas mais econômica do que aparelhos de ar-condicionado. “O ventilador consome muito menos energia do que o ar-condicionado e pode funcionar bem quando o restante do projeto colabora”, explica a arquiteta.

A escolha de materiais também é decisiva. “Materiais que não retêm tanto calor, ou que demoram menos para dissipar essa temperatura, ajudam muito”, afirma.

Combinação de estratégias reduz consumo e aumenta conforto

Para Lusianne, o enfrentamento às ondas de calor depende de um conjunto de decisões integradas: desde a orientação solar e ventilação cruzada até a escolha de materiais e o uso estratégico da vegetação.

“Com um bom projeto, conseguimos minimizar bastante o uso do ar-condicionado. É possível ter conforto térmico, consumir menos energia e viver em espaços mais agradáveis”, conclui.

Com ciclos de calor cada vez mais longos e intensos, especialistas defendem que soluções arquitetônicas deixem de ser opcionais e passem a compor políticas públicas de habitação, urbanismo e adaptação climática, estratégia considerada fundamental em um país que já sente, dentro das próprias casas, os efeitos do aquecimento global.

Foto: Brody Childs

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