Sudeste concentra 63% dos casos; população negra, com baixa escolaridade e renda inferior a R$ 109 mensais é a mais afetada
O número de pessoas vivendo em situação de rua no Brasil chegou a 335.151 em março deste ano, segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os dados, divulgados na última segunda-feira (14), têm como base o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), do governo federal.
O total representa um aumento de 0,37% em relação a dezembro de 2024, quando havia 327.925 pessoas nessa condição. Desde 2013, o número de pessoas em situação de rua no país cresceu 14,6 vezes — naquele ano, eram 22,9 mil registros.
A maioria dessa população tem entre 18 e 59 anos (88%) e é formada por homens (84%). Crianças e adolescentes representam 3% dos registros, enquanto os idosos somam 9%. Quatro em cada cinco pessoas nessa situação sobrevivem com até R$ 109 por mês, o que equivale a apenas 7,18% do salário mínimo atual, de R$ 1.518.
Mais da metade (52%) das pessoas em situação de rua não completaram o ensino fundamental ou não têm qualquer instrução formal. O levantamento aponta ainda que a maioria é formada por pessoas negras. A baixa escolaridade, segundo a pesquisa, dificulta o acesso ao mercado de trabalho e acentua a exclusão social.
A região Sudeste concentra 63% da população em situação de rua do país, o que corresponde a 208.791 pessoas. Em seguida, estão o Nordeste (14%), o Sul (13%), o Centro-Oeste (6%) e o Norte (4%).
O estado de São Paulo reúne 42,8% do total nacional. Depois aparecem Rio de Janeiro (10%) e Minas Gerais (9%). Em números absolutos, São Paulo lidera com 96.220 pessoas em situação de rua, seguido por Rio de Janeiro (21.764), Belo Horizonte (14.454), Fortaleza (10.045), Salvador (10.025) e Brasília (8.591).
Doze capitais brasileiras registraram aumento no número de pessoas em situação de rua entre dezembro de 2024 e março de 2025. Entre elas estão Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis, Recife, Porto Velho e Campo Grande. Outras nove capitais, como Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, tiveram queda nos registros. As demais permaneceram estáveis.
Na análise proporcional, Boa Vista tem a maior taxa: são 20 pessoas em situação de rua a cada 1.000 habitantes. Em São Paulo, essa proporção é de 8 para cada 1.000; em Florianópolis, 7; e em Belo Horizonte, 6.

Entre 2020 e 2024, o Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, registrou 46.865 denúncias de violência contra essa população. A maior parte ocorreu em vias públicas. Capitais como São Paulo (8.767 casos), Rio de Janeiro (3.478) e Brasília (1.712) lideram o ranking de denúncias. A faixa etária com mais vítimas é de 40 a 44 anos.
Segundo o relatório, também foram relatados episódios de violência em locais que deveriam oferecer proteção, como abrigos, hospitais, centros de referência, instituições de longa permanência para idosos e até órgãos públicos.
Em nota, o observatório da UFMG classificou o cenário como “preocupante” e afirmou que políticas públicas estruturantes, como moradia, trabalho e educação para essa população, “são inexistentes ou ineficientes”.
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome afirmou que retomou, em 2023, as capacitações de entrevistadores do CadÚnico e que trabalha para reduzir a subnotificação. Segundo a pasta, o governo federal tem investido na ampliação de equipamentos como os Centros POP, que oferecem serviços de alimentação, higiene, emissão de documentos e acolhimento especializado.
Além disso, o ministério informou que financia o Paefi (Serviço de Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), voltado a pessoas em risco social ou com direitos violados, ofertado em unidades do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Foto de capa: © Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo – Informações: Agência Brasil