Menos da metade das escolas públicas brasileiras está ligada à rede de esgoto. O dado faz parte do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, divulgado nesta quinta-feira (25) pela organização Todos Pela Educação, em parceria com a Fundação Santillana e a Editora Moderna.
Segundo o levantamento, apenas 48,2% das escolas contam com rede pública de esgoto e mais de 20% ainda não têm coleta de lixo. Embora 95% das unidades disponham de infraestrutura considerada básica, a oferta é desigual entre as regiões.
No Norte, só 9,3% das escolas têm esgoto e 54% não contam com coleta de lixo. No Nordeste, o índice de ligação à rede de esgoto é de 30,8%. Já no Sudeste, o número sobe para 84,7%, no Sul para 56,9% e no Centro-Oeste para 47,8%.
Para a gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Manoela Miranda, a precariedade impacta diretamente a aprendizagem. “Três em cada dez escolas públicas no Acre e em Roraima não têm água potável, é uma situação difícil não ter nem água potável para os estudantes e gestores. Falta energia elétrica em um terço das escolas públicas no Acre e no Amazonas. E a falta de banheiro atinge um quarto das escolas públicas em Roraima”, afirmou.
Segundo ela, garantir o mínimo de infraestrutura é essencial para manter os alunos em sala de aula. “É preciso garantir condições mínimas para que a aula possa acontecer e os estudantes possam ficar na escola”, disse.
Manoela destacou ainda os desafios específicos da Região Norte. “Na Região Norte, esses fatores operacionais são mais complexos e é importante que as políticas públicas levem em consideração o chamado fator amazônico, ou seja, os custos logísticos e operacionais adicionais que a região impõe.”
Desigualdades no acesso a equipamentos
O anuário também aponta diferenças no acesso a equipamentos pedagógicos. Apenas 27% das escolas públicas de anos iniciais do ensino fundamental têm laboratório de informática. O percentual sobe para 46,8% nos anos finais e 73% no ensino médio. Os laboratórios de ciências estão presentes em 20,3% das escolas dos anos finais e em 46,9% das de ensino médio.
“Eu destacaria também a mesma desigualdade [no recorte] regional. Se considerar as escolas de ensino médio que têm laboratórios de ciências na Região Norte, esse percentual cai para 40%. Tem estados como Roraima, com 22%, e Acre, com 21%”, disse a especialista.
Na educação infantil, apenas 41% das escolas possuem parque, 35,3% têm área verde e 69,6% contam com material pedagógico infantil. No Norte, a presença desses recursos é ainda mais reduzida: 11,5% contam com parque, 33% com área verde e 36,5% com material pedagógico. No Sul, os índices chegam a 87,4%, 60,6% e 95,5%, respectivamente.
Internet e aprendizagem
Quase todas as escolas públicas (95,4%) têm acesso à internet, mas só 44,5% estão conectadas com parâmetros adequados para uso pedagógico. O anuário conclui que a ausência de infraestrutura, tanto básica quanto voltada ao ensino, limita o aprendizado.
Segundo Manoela, os dados de desempenho mostram o tamanho do desafio. “O país ainda tem um longo caminho a percorrer, especialmente quando se olha para o resultado de aprendizagem adequada em matemática e língua portuguesa no ensino médio”, disse.
Apenas 4,5% dos estudantes da 3ª série do ensino médio alcançaram aprendizagem adequada em matemática e português. No 9º ano do ensino fundamental, o índice é de 13,3%, e no 5º ano, de 37,2%.
Manoela avalia que os números devem orientar o debate sobre metas educacionais. “Quero destacar os avanços especialmente em acesso à educação, conclusão, menor distorção idade-série, por outro lado, quero destacar a importância desses dados e de se olhar para as desigualdades regionais, socioeconômicas e raciais que existem no país para avançarmos uma educação de qualidade com equidade”.
Ela ressalta ainda a relevância do anuário para embasar políticas públicas. “Atualmente, no Congresso [Nacional], tramita o Plano Nacional de Educação, que vai colocar metas e estratégias para o próximo decênio da educação brasileira. É muito importante olharmos para esses dados e os desafios que ainda existem para termos boas metas, ambiciosas mas realistas para a educação que queremos daqui a dez anos”.
Com informações e imagem da Agência Brasil