O Governo de Mato Grosso do Sul anunciou, nesta quinta-feira (18), que irá antecipar a liberação de R$ 3,3 milhões ao Consórcio Guaicurus na tentativa de encerrar a greve dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande, que chega ao quarto dia. O valor corresponde a um repasse previsto para o mês de janeiro e será utilizado para regularizar a folha de pagamento dos motoristas.
Segundo o governo estadual, o pagamento faz parte de um acordo firmado há cerca de quatro anos entre o estado e a Prefeitura de Campo Grande, que prevê a participação do governo no custeio das passagens de alunos da rede estadual. O montante anual do convênio é de aproximadamente R$ 13,4 milhões, atualmente repassados em quatro parcelas ao longo do ano.
Com a antecipação, o Consórcio Guaicurus poderá utilizar os recursos para regularizar parte da folha salarial dos motoristas. A empresa informou que precisa de cerca de R$ 1,5 milhão para quitar 50% dos salários atrasados, além do pagamento do 13º salário, que vence nesta sexta-feira (19). A expectativa é de que, com a regularização, a paralisação seja encerrada.
A liberação antecipada dos recursos, no entanto, depende do envio de uma solicitação formal por parte da Prefeitura de Campo Grande. De acordo com o governo estadual, houve diálogo entre o estado e o município, e o orçamento foi ajustado para viabilizar a antecipação, desde que o pedido seja encaminhado até o fim do dia. “Nós vamos aguardar essa formalização, se vai ter uma decisão de intervenção. Mas estamos à disposição para fazer essa operação. Eles formalizam, a gente altera o convênio […] A gente antecipa agora e passa para a prefeitura, aí eles vão decidir como conduzir isso”, afirmou Riedel.
A greve dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande entrou no quarto dia nesta quinta-feira (18) e mantém a suspensão do serviço, que afeta cerca de 110 mil usuários.
A paralisação foi mantida após audiência de conciliação realizada na terça-feira (16), no Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24), que terminou sem acordo entre as partes. A decisão foi tomada em assembleia da categoria, realizada na escadaria do tribunal, mesmo diante da ordem judicial para que 70% da frota circule nos horários de pico e 50% nos demais períodos.
Na audiência de terça, a Justiça do Trabalho fixou multa diária de R$ 200 mil ao sindicato em caso de descumprimento da decisão. O Judiciário reconheceu que o valor devido aos motoristas é de R$ 1,3 milhão, mas representantes do Consórcio Guaicurus e da Prefeitura de Campo Grande alegaram não ter recursos para o pagamento imediato, o que impediu o avanço de um acordo.
Em meio à crise no sistema, a Justiça determinou, na tarde de quarta-feira (17), que a Prefeitura de Campo Grande instaure, no prazo de 30 dias, um procedimento administrativo de intervenção no contrato de concessão do Consórcio Guaicurus. A decisão obriga a administração municipal a nomear um interventor e apresentar um cronograma para a regularização do transporte coletivo na capital. O descumprimento pode resultar em multa diária de R$ 300 mil, com os valores destinados ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos.
Fiems aponta prejuízos à indústria e amplia alerta sobre impactos econômicos da greve
Após os efeitos da paralisação do transporte coletivo sobre o comércio e os serviços, a indústria de Campo Grande também passou a medir os prejuízos provocados pela greve dos motoristas. Levantamento do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) indica que a interrupção do deslocamento de trabalhadores compromete a produção e afeta diretamente a atividade econômica da capital.
De acordo com o estudo, as perdas na indústria de transformação podem variar de cerca de R$ 19 milhões a quase R$ 58 milhões por dia, conforme o percentual de trabalhadores impedidos de chegar aos postos de trabalho por falta de transporte coletivo.
A estimativa tem como base dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do IBGE, que apontam que cada trabalhador da indústria de transformação em Mato Grosso do Sul produz, em média, R$ 3.500 por dia útil. A ausência desses profissionais resulta em perdas imediatas de produção e impacto na cadeia industrial.
Campo Grande concentra aproximadamente 22 mil trabalhadores formais na indústria de transformação. Segundo a simulação, caso 25% desses profissionais deixem de trabalhar, o prejuízo diário é estimado em cerca de R$ 19 milhões. Com 50% de ausência, as perdas sobem para aproximadamente R$ 38,5 milhões, podendo chegar a quase R$ 58 milhões por dia se 75% da força de trabalho for impactada.
Para o presidente da Fiems, Sérgio Longen, os números evidenciam a gravidade da situação, com reflexos sobre emprego, renda, arrecadação e competitividade da cidade. “Quando o trabalhador não consegue chegar à empresa, toda a cadeia produtiva é impactada, com reflexos sobre emprego, renda, arrecadação e competitividade da cidade”, destacou.
Além da indústria de transformação, outros segmentos industriais também são afetados pela paralisação, como a construção civil, que enfrenta atrasos no andamento das obras e prejuízos nos cronogramas de entrega.
Foto de capa: Beatriz Rieger

















