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Mato Grosso do Sul pulsa com um novo ritmo. A chegada e a expansão de grandes indústrias injetam vitalidade em nossos municípios, gerando empregos e impulsionando a economia a patamares inéditos. É um cenário de oportunidades grandiosas, um convite irrecusável ao progresso. Contudo, em meio a essa efervescência, reside um desafio crucial: o crescimento acelerado, se desprovido de um olhar estratégico para o futuro, pode rapidamente transformar o sonho de prosperidade em um complexo emaranhado de problemas urbanos. Estamos, sem dúvida, em um ponto de inflexão.

Podemos trilhar o caminho do desenvolvimento consciente, que edifica cidades vibrantes e resilientes, ou o da expansão desordenada, que, por sua natureza, engendra o caos e compromete irremediavelmente a qualidade de vida de seus habitantes.

Quando abordamos o planejamento urbano e ambiental, transcende-se a mera discussão de mapas e zoneamentos. Falamos, na verdade, da construção de cidades que respiram, que promovem o bem-estar e que se erguem sobre pilares de justiça social para todos. Os conceitos mais avançados de urbanização apontam para a edificação de cidades sustentáveis, inteligentes e resilientes, onde a infraestrutura verde assume um papel tão vital quanto o asfalto que cobre nossas ruas ou os edifícios que tocam o céu.

Imagine um lugar onde a arborização transcende o mero detalhe paisagístico, tornando-se um elemento central na mitigação das ilhas de calor, na purificação do ar e na promoção da saúde coletiva. A iniciativa de construir um Plano Estadual de Arborização Urbana em Mato Grosso do Sul, uma ação estratégica e necessária, representaria um passo fundamental nessa direção.

Definindo objetivos claros: não apenas embelezar, mas combater as ilhas de calor, purificar o ar, gerenciar águas pluviais de forma eficiente e promover a biodiversidade local. Para isso, o plano visa oferecer aos municípios as ferramentas, o conhecimento técnico e o suporte necessário para que cada um possa desenvolver e implementar seus próprios planos locais de arborização. Isso inclui desde a capacitação de equipes, o acesso a dados e tecnologias de mapeamento, até a criação de viveiros de mudas adaptadas à nossa realidade climática e a definição de diretrizes para o manejo adequado das árvores. Essa abordagem coordenada e baseada em evidências é a chave para implantarmos uma nova realidade na ocupação territorial, onde o verde se integra organicamente ao tecido urbano, valorizando imóveis, atraindo investimentos e, acima de tudo, elevando a qualidade de vida de todos os cidadãos.

Nesse contexto, a “Regra 3-30-300”, por exemplo, é mais do que um conceito; é uma estratégia real e comprovada, já adotada em diversas cidades ao redor do mundo, que pode ser perfeitamente adaptada e implantada em todas as cidades de Mato Grosso do Sul. O pesquisador e autor, diretor e cofundador do Nature-Based Solutions Institute Cecil C. Konijnendijk em sua tese “Diretrizes Baseadas em Evidências para Bairros Mais Verdes, Saudáveis e Resilientes”,  apresenta a Regra 3–30–300 , onde demonstra um parâmetro de qualidade de vida quando cada pessoa deve ter a capacidade de ver pelo menos três árvores bem estabelecidas de sua residência, local de trabalho ou estudo; que seu bairro deve possuir no mínimo 30% de cobertura de copa arbórea; e que todos devem viver a no máximo 300 metros de um espaço verde público de alta qualidade.

Essa regra não é uma camisa de força, mas uma oportunidade de desenvolvermos uma metodologia flexível, que pode evoluir junto com cada realidade urbana, respeitando as particularidades de cada município e incentivando a inovação local. Princípios como esses sublinham uma verdade inegável: o planejamento urbano é, em sua essência mais profunda, saúde pública. Cidades bem concebidas reduzem a incidência de doenças respiratórias, incentivam a prática de atividades físicas e fomentam o bem-estar mental, cultivando ambientes mais saudáveis e felizes para todos.

A história, em sua implacável clareza, demonstra que a ausência de planejamento impõe um custo exorbitante. Cidades que se expandem sem diretrizes claras são invariavelmente confrontadas com problemas crônicos: o colapso da infraestrutura de transporte e saneamento, a escassez de recursos hídricos, a poluição do ar e da água, um adensamento desordenado que sufoca bairros inteiros e, talvez o mais lamentável, o aprofundamento das desigualdades sociais, onde as populações mais vulneráveis arcam com o peso da degradação ambiental e da carência de serviços essenciais.

Em Mato Grosso do Sul, onde já convivemos com desafios prementes como o aumento das temperaturas extremas e períodos críticos de poluição atmosférica decorrentes de queimadas, a urgência de um planejamento robusto torna-se ainda mais palpável. Ele é a ferramenta indispensável que nos permite antecipar esses problemas, concebendo soluções eficazes antes que se metamorfoseiem em crises incontroláveis. O planejamento é a ponte sólida que conecta o presente a um futuro desejável. Ele assegura que o desenvolvimento econômico seja intrinsecamente acompanhado pela melhoria da qualidade de vida, que o crescimento populacional encontre moradias dignas e infraestrutura adequada, e que a riqueza gerada beneficie a todos, de forma equitativa e sustentável. É a garantia de que nossos filhos e netos herdarão cidades prósperas, e não um legado de problemas acumulados.

Nesse complexo e vital processo de moldar o porvir de nossas cidades, o papel do arquiteto e urbanista revela-se absolutamente insubstituível. Sua atuação transcende o mero desenho de edifícios; trata-se de conceber espaços que funcionem harmoniosamente, que exalem beleza e que fomentem a interação humana e a coexistência pacífica com o meio ambiente. O arquiteto e urbanista é o profissional dotado da visão sistêmica necessária para integrar as múltiplas dimensões do desenvolvimento: a ambiental, a social, a econômica e a cultural.

Sua expertise é a base para: projetar cidades funcionais, garantindo a fluidez do trânsito, a universalidade dos serviços públicos e a acessibilidade às áreas verdes; promover a sustentabilidade, incorporando soluções de infraestrutura verde, o uso eficiente de recursos e a resiliência climática; assegurar a equidade, desenhando espaços inclusivos que atendam às necessidades de todas as camadas da população, combatendo a desigualdade socioespacial no acesso a áreas verdes; e, finalmente, preservar o patrimônio, valorizando a história, a cultura e a rica biodiversidade de Mato Grosso do Sul. É o olhar técnico e humanista desse profissional que converte visões em realidade, assegurando que o crescimento seja ordenado, inclusivo e profundamente respeitoso com nosso inestimável patrimônio natural e cultural.

O futuro de nossas cidades, caros leitores, reside verdadeiramente em nossas mãos. O planejamento urbano e ambiental não é um luxo dispensável, mas um investimento fundamental que assegura prosperidade a longo prazo e uma qualidade de vida superior para todos. É a ferramenta mais potente que possuímos para construir um Mato Grosso do Sul mais verde, mais justo e inegavelmente mais resiliente.

É chegado o momento de a sociedade se engajar ativamente, de exigir que nossos gestores públicos elevem o planejamento à condição de pilar fundamental do desenvolvimento. É hora de valorizar e apoiar o trabalho incansável dos arquitetos e urbanistas, que são os verdadeiros arquitetos do nosso futuro coletivo. Vamos, juntos, edificar cidades com qualidade de vida e resiliência climática em nosso estado. O momento de agir é agora!

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Luis Eduardo Costa

Arquiteto e Urbanista com vasta experiência em gestão pública e desenvolvimento urbano e ambiental. Atuou como Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano em Campo Grande (MS). Foi professor universitário, presidiu o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso do Sul (CAU/MS) e é autor de diversos projetos arquitetônicos e urbanísticos.
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