Degradação no Planalto da Bacia do Alto Paraguai agrava seca e ameaça equilíbrio hídrico do bioma
O Pantanal enfrenta o período mais seco das últimas quatro décadas, com uma redução de 75% na frequência anual de áreas alagadas. O dado é do MapBiomas, que analisou imagens de satélite entre 1985 e 2024 e apontou a drástica diminuição das cheias que caracterizam o bioma, considerado a maior planície alagável do mundo.
Segundo o levantamento, a área que permanecia coberta por água caiu de 1,6 milhão de hectares, na primeira década observada (1985–1994), para 460 mil hectares entre 2014 e 2024. O ano de 2024 foi o mais seco de toda a série histórica, com a área alagada 73% abaixo da média. A última grande cheia, em 2018, foi 22% mais seca do que a primeira registrada, em 1988.
As transformações no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), região onde nascem os rios que alimentam o Pantanal, estão diretamente relacionadas à crise hídrica na planície. A BAP abrange Mato Grosso (48%) e Mato Grosso do Sul (52%), e suas alterações no uso do solo afetam o fluxo de água que chega à planície.
De acordo com o MapBiomas, a área natural do Planalto caiu de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul, o que representa uma perda total de 5,2 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024. No mesmo período, a agricultura aumentou 3,8 vezes, impulsionada pela soja, que responde por 80% das áreas agrícolas. A pastagem também se expandiu em 4,4 milhões de hectares sobre áreas naturais.
“As variações climáticas e de precipitação na BAP determinam o pulso anual de cheias no Pantanal. A perda de florestas e savanas fragiliza a proteção dos solos nas cabeceiras do bioma, o que interfere no fluxo de água que chega à planície”, explica Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas. “Em 1985, 33% do Planalto, ou sete milhões de hectares, já eram de uso antrópico. Em 2024, praticamente 60% do Planalto é antropizado”.
A situação das pastagens também preocupa. Em 2024, 63% das áreas de pasto apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo. No Planalto, a porção da Amazônia (2 milhões de hectares) apresenta 52% de baixo vigor, enquanto a parte do Cerrado (6,6 milhões de hectares) tem 14% de baixo vigor e 41% de médio vigor.
Na Planície Pantaneira, a perda de vegetação nativa também foi significativa. A área natural caiu de 96% para 84% entre 1985 e 2024, o que equivale a 1,7 milhão de hectares a menos. A conversão para pastagem somou 1,7 milhão de hectares, fazendo com que o total de áreas de pasto passasse de 563 mil hectares para 2,2 milhões no mesmo período. Em 2024, 85% das pastagens da planície apresentavam baixo ou médio vigor.
A mineração foi a atividade que mais cresceu proporcionalmente na última década, com aumento de 60% nas áreas exploradas.
No conjunto da Bacia do Alto Paraguai, as áreas agropecuárias passaram de 21% em 1985 para 40% em 2024, o que significa 7,5 milhões de hectares convertidos de vegetação nativa em quatro décadas.
O MapBiomas destaca que a década de 2015 a 2024 foi a mais seca da série histórica. “A planície perdeu 1,2 milhão de hectares em área alagada em comparação com a primeira década. Pela primeira vez, a perda de vegetação nativa na planície superou a do planalto”, aponta o relatório.
O estudo faz parte da Coleção 10 do MapBiomas, que reúne mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil desde 1985. A base considera 30 classes diferentes, incluindo florestas, vegetação herbácea e arbustiva, agropecuária, áreas urbanizadas, mineração e recifes costeiros.
Foto: Bruno Rezende/Governo de Mato Grosso do Sul



















