A esteatose hepática, conhecida popularmente como “fígado gorduroso”, já afeta cerca de 38% da população mundial, segundo levantamento publicado na revista Hepatology. O número representa um avanço expressivo em relação ao período entre 1990 e 2006, quando a prevalência global era de 25,26%, e confirma a expansão de uma epidemia silenciosa associada ao sedentarismo e à má alimentação.
Embora a doença esteja entre as mais frequentes do fígado, ela ainda é pouco compreendida pela população. “Muitas pessoas acreditam que apenas quem bebe muito corre o risco de ter gordura no fígado, mas não é verdade. O estilo de vida sedentário e a má alimentação são causas cada vez mais comuns e podem afetar pessoas de qualquer idade”, explica a endocrinologista Natalia Cinquini, consultora médica do Sabin Diagnóstico e Saúde.
A condição é caracterizada pelo acúmulo de gordura acima de 5% na composição do fígado, o que aumenta o risco de inflamações e complicações graves, como esteato-hepatite, fibrose, cirrose e, em casos extremos, câncer hepático.
Estudos do Instituto Karolinska, publicados no The Journal of Hepatology, indicam que pessoas com esteatose apresentam mortalidade 1,85 vez maior do que indivíduos sem a doença, incluindo mortes por doenças cardiovasculares e cânceres não hepáticos.
“O impacto vai além do fígado, afetando todo o organismo”, alerta Cinquini. Ainda assim, a conscientização segue baixa. Uma pesquisa do Datafolha mostra que, embora 62% dos brasileiros afirmem se preocupar com a gordura no fígado, apenas 7% receberam diagnóstico médico e 60% não sabem qual exame detecta o problema.
Doença silenciosa dificulta diagnóstico
Nos estágios iniciais, a esteatose hepática não apresenta sintomas. Quando surgem, os sinais costumam incluir cansaço persistente, fraqueza, perda de apetite, aumento abdominal e inchaço.
O diagnóstico combina histórico clínico, exames laboratoriais e de imagem. Testes de sangue podem revelar alterações nas enzimas hepáticas, e a ultrassonografia abdominal ajuda a confirmar a presença de gordura. Em casos específicos, são indicadas elastografia ou biópsia hepática para avaliar o grau de comprometimento do órgão.
“Essas ferramentas permitem identificar precocemente a doença, mesmo quando não há sintomas, aumentando as chances de controlar ou reverter o quadro antes que surjam complicações graves”, afirma Cinquini.
Mudança de hábitos é principal forma de tratamento
Não existe, até o momento, medicação específica aprovada para o tratamento da esteatose hepática. O manejo clínico é baseado em mudanças no estilo de vida, com foco na alimentação equilibrada, atividade física regular e controle do peso.
Entre as orientações médicas estão reduzir o consumo de ultraprocessados e álcool, tratar doenças associadas, como diabetes e hipertensão, e realizar acompanhamento periódico com exames de sangue e imagem.
“Com acompanhamento adequado, é possível estabilizar ou até reverter a gordura no fígado. Mesmo em casos já avançados, como a cirrose, há medidas que ajudam a melhorar a evolução e preservar a qualidade de vida”, acrescenta a endocrinologista.
Diagnóstico precoce é determinante
Especialistas reforçam que detectar o problema nos estágios iniciais aumenta as chances de reversão. Por isso, é recomendada a avaliação hepática preventiva, principalmente para quem apresenta fatores de risco metabólicos, como obesidade, diabetes e colesterol alto.
“O diagnóstico precoce é a chave. Quanto antes o problema for identificado, maiores as chances de evitar danos irreversíveis”, conclui Cinquini.
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