O período de férias escolares pode ser ideal para as famílias introduzirem novos hábitos alimentares no dia a dia das crianças, especialmente aquelas com seletividade alimentar, comportamento popularmente conhecido como “paladar infantil”. O tempo livre possibilita maior envolvimento dos pais nas refeições e na organização da rotina alimentar, o que pode impactar positivamente a saúde e o desenvolvimento infantil.
Segundo especialistas, a seletividade alimentar, quando não é acompanhada e orientada adequadamente, pode persistir até a vida adulta e gerar prejuízos nutricionais e emocionais. A recusa por novos alimentos costuma estar ligada a fatores sensoriais, como sabor, textura, cor ou cheiro, mas também pode refletir questões emocionais, como o uso da comida como conforto.
Transtorno pode evoluir e comprometer saúde
Em casos mais severos, o comportamento pode se enquadrar no Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE), conhecido internacionalmente como ARFID (na sigla em inglês). O distúrbio se caracteriza pela rejeição persistente de alimentos, não associada à imagem corporal, e pode levar a deficiências nutricionais, anemia, baixo ganho de peso e até isolamento social.
“A alimentação limitada compromete não apenas o desenvolvimento do paladar, mas também o consumo adequado de nutrientes essenciais”, explica Karina Oliveira, nutricionista da Escola Bilíngue Aubrick, em São Paulo. “É importante lembrar que o paladar se forma principalmente na infância, e o que não é estimulado nesse período pode gerar resistência alimentar na vida adulta”.
Alimentação também reflete aspectos emocionais
Além das questões sensoriais, hábitos alimentares disfuncionais muitas vezes têm origem emocional. De acordo com a psicóloga Ana Claudia Favano, da Escola Internacional de Alphaville, o excesso de alimentos ultraprocessados, a rigidez nas refeições e o uso da comida como recompensa podem gerar consequências duradouras.
“Trabalhar o paladar desde cedo é uma forma de educação e um gesto de cuidado com a saúde emocional”, afirma. “Cada novo alimento aceito é uma conquista e um passo em direção à autonomia alimentar’.
Participação da criança nas refeições é fundamental
Especialistas recomendam que pais aproveitem o período das férias para explorar novos alimentos com as crianças de forma lúdica e respeitosa. Envolver os pequenos na escolha dos ingredientes, no preparo das refeições e na montagem dos pratos são estratégias que contribuem para a aceitação de novos sabores.
“A dica é começar sem pressão, oferecendo pequenas porções e variando as formas de preparo”, sugere Cynthia Howlett, nutricionista da Sanutrin e coordenadora de projetos educacionais no Brazilian International School. “Pratos coloridos, com formatos divertidos ou com carinhas feitas de legumes, despertam a curiosidade da criança e tornam a alimentação mais atrativa”.
Segundo ela, piqueniques, jogos sensoriais e o contato direto com frutas e verduras são formas eficazes de transformar o momento da refeição em uma experiência positiva.
A formação do paladar infantil também passa pela escola. Hortas pedagógicas, projetos de educação alimentar e refeições equilibradas no ambiente escolar ajudam a naturalizar o contato com uma variedade maior de alimentos.
Fernando Fadin, nutricionista do colégio Progresso Bilíngue Cambuí, em Campinas (SP), reforça que a parceria entre pais e educadores é essencial. “Quando os bons hábitos alimentares são reforçados em casa e na escola, a criança entende que comer bem é parte da vida, e não uma imposição. Isso reduz a resistência e melhora a relação com a comida”.
A orientação dos especialistas é que os pais aproveitem o período sem a pressão da rotina escolar para construir novos hábitos de forma leve, sem forçar ou punir, e reforcem o exemplo dentro de casa, com refeições equilibradas e envolvimento ativo das crianças no processo alimentar.
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