A Prefeitura de Campo Grande anunciou um aporte de aproximadamente R$ 54 milhões para garantir a continuidade dos atendimentos na Santa Casa e o pagamento de salários e do 13º de médicos e funcionários do hospital. O acordo foi firmado com o Governo do Estado, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) e a própria instituição, após a paralisação de trabalhadores que afetou os serviços no início da semana passada, na segunda-feira (22).
Do total, cerca de R$ 16 milhões serão destinados pelo município, incluindo um repasse direto de R$ 5,2 milhões, dividido em quatro parcelas mensais entre janeiro e abril de 2026. Outros aproximadamente R$ 10 milhões virão de recursos recuperados por meio de acordos com empresas. Os valores serão utilizados para regularizar pagamentos e garantir a manutenção dos atendimentos.
Em pronunciamento divulgado nas redes sociais, a prefeita Adriane Lopes (PP) afirmou que a gestão da Santa Casa não é de responsabilidade do município, mas destacou que a Prefeitura atuou para evitar prejuízos à população diante da paralisação dos serviços.
“A gestão da Santa Casa não é do município, mas, diante da crise e da paralisação que afeta diretamente a população, estamos repassando um recurso novo. Somando as ações do Estado, da bancada federal e do município de Campo Grande, são mais de R$ 54 milhões para o pagamento de salários e do 13º dos médicos e funcionários da Santa Casa, para que o hospital não paralise”, afirmou.
Segundo a prefeita, o acordo foi construído em conjunto com o Governo do Estado, o Ministério Público e a bancada federal. “Vamos seguindo, fazendo o que precisa ser feito pela população”, completou.
Com o repasse, a Santa Casa fica responsável por restabelecer integralmente os serviços médicos e hospitalares, conforme prevê o acordo, que também estabelece regras de transparência e prestação de contas, com fiscalização do Ministério Público.
Greve teve início após atraso no 13º salário
A paralisação começou na manhã de segunda-feira (22), quando enfermeiros e funcionários do setor administrativo da Santa Casa entraram em greve após serem informados de que não receberiam o 13º salário em 2025. A decisão foi aprovada por unanimidade pela categoria, que manteve apenas 30% do efetivo em atividade, conforme previsto para serviços essenciais.
Antes das 6h30, os trabalhadores se concentraram no saguão do hospital e, em seguida, realizaram protesto pelas ruas da região central de Campo Grande. Com a paralisação, o atendimento passou a funcionar de forma reduzida, impactando diretamente os serviços prestados à população.
De acordo com a direção da Santa Casa, o atraso no pagamento ocorreu em razão da grave crise financeira enfrentada pela instituição. Em coletiva de imprensa, a presidente do hospital, Alir Terra, afirmou que a unidade acumula uma dívida aproximada de R$ 100 milhões e registra déficit mensal estimado em R$ 12 milhões. Segundo ela, o cenário é resultado de pelo menos três anos de desequilíbrio financeiro no contrato firmado com o poder público.
A administração chegou a apresentar a proposta de parcelar o 13º salário em três vezes, com pagamentos previstos para janeiro, fevereiro e março de 2026. A proposta, no entanto, não foi aceita pelos trabalhadores, o que manteve a paralisação.
Impactos e negociações
A greve ocorreu em meio a um cenário de superlotação e restrições no atendimento. No início de dezembro, a Santa Casa havia declarado estado de contingência, principalmente na área cirúrgica, após a paralisação de anestesiologistas. Na ocasião, apenas atendimentos de urgência e emergência estavam sendo priorizados.
Além da enfermagem e do setor administrativo, médicos também passaram a discutir medidas diante do atraso nos pagamentos. O Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (SinMed-MS) ingressou com ação judicial relacionada à situação. Funcionários das áreas de apoio, como limpeza, portaria e manutenção, também realizaram assembleias para discutir propostas específicas.
Durante o segundo dia de paralisação, na terça-feira (23), a Polícia Militar foi acionada após um grupo de manifestantes entrar no hospital. A situação foi controlada, sem registro de conflitos. As visitas chegaram a ser restritas a um único horário, das 11h às 12h.
Fim da greve
A greve foi encerrada após decisão da Justiça do Trabalho, que determinou o pagamento do 13º salário. Pelo acordo, os trabalhadores receberam 50% do valor na última quarta-feira (24), enquanto a outra metade será paga até o dia 10 de janeiro de 2026. Parte do montante será complementada com recursos do governo federal.
Após votação, os trabalhadores aceitaram os termos do acordo e iniciaram o processo de retomada das atividades. Com isso, a expectativa é de normalização gradual dos atendimentos na unidade hospitalar.

















