Hoje, 25 de agosto, Dia do Soldado, me pego lembrando de uma das experiências mais marcantes da minha vida: o estágio para jornalistas em áreas de risco, que vivi entre os dias 11 e 15 deste mês. Foram cinco dias que me mostraram, na prática, o quanto a preparação é essencial para quem escolhe contar histórias em lugares onde o perigo é parte da rotina.
Acho que pelos últimos acontecimentos envolvendo o exército brasileiro, ainda tinha uma visão estereotipada do que acontecia por dentro dos quartéis. Não foi fácil no início tirar aqueles paradigmas e mistérios sobre o lugar.
Mas logo no primeiro dia, segunda-feira (11), essa visão já caiu por terra quando fomos recebidos no Comando Militar do Oeste (CMO) pelo General Baganha. Neste momento, logo na apresentação, o General explicou um pouco das atividades realizadas no CMO. Tivemos palestras sobre as atividades do Exército na região e sobre a importância estratégica do Pantanal. Até então, não imaginava a dimensão do trabalho feito ali, cuidar de fronteiras, preservar o meio ambiente e ainda manter a presença em áreas de difícil acesso. Foi um começo que me fez enxergar além do que costumamos ver nas manchetes.



O segundo dia, terça-feira (12) foi o mais intenso até então, ali começava a tão esperada prática do estágio. Tivemos um treinamento de progressão de guerra com cobertura jornalística: coletes, capacetes, joelheiras e até óculos de proteção. No início não foi fácil, um treinamento digno de soldado para os jornalistas: correr, agachar, engatinhar e até mesmo rastejar com todos esses equipamentos que deviam pesar juntos mais de 10kg.
Logo em seguida tivemos a adrenalina de acompanhar os soldados em uma encenação de guerra com tiro de festim, tentando vencer seus adversários e progredir até o outro lado do campo. Enquanto isso, nós, um grupo de 13 jornalistas de diversas áreas, fomos junto com eles fazendo a cobertura jornalística. Um misto de tensão com empolgação de estar vivendo aquilo.
Depois, assistimos a uma demonstração da perícia do Exército sobre o efeito de diferentes armas em vários materiais. Mas o treinamento não parou por aí.







Gás lacrimogêneo, bomba de gás, bala de borracha e arma de choque, uma experiência que fez até alguns chorarem (inclusive eu). No fim da manhã fizemos o treinamento com o gás lacrimogêneo. Máscaras de proteção a postos e o pedido mental que aquele gás não entrasse de jeito nenhum por baixo da máscara. Mas os efeitos apareceram: ardência nos olhos, boca e nariz tomaram conta por pelo cinco minutos.




No terceiro dia (13), embarcamos em um helicóptero do Exército rumo ao Campo de Instrução de Betione. A vista aérea das matas e vegetações de Mato Grosso do Sul já valeria a viagem, mas a atividade foi além. Acompanhamos um treinamento de guerra com tiros de festim (barulho e efeito de uma arma de fogo, mas sem o projétil que atinge o alvo. Em vez de um projétil, o cartucho de festim contém apenas pólvora, que, ao ser disparada, cria a explosão e o som de um tiro real), a última etapa antes do uso de munição real. Também conheci de perto o blindado Guarani.






O quarto dia (14) foi dedicado a palestras sobre direito internacional e sobre o papel do jornalista dentro do contexto militar. Aprendi sobre os limites e responsabilidades da profissão em situações delicadas, onde informação e segurança precisam andar juntas.
Por fim, no quinto dia (15), tivemos a formatura e a entrega dos certificados. Recebi o meu das mãos do general Baganha. Foi um momento gratificante, mas carregado de significado: saí de lá entendendo que estar preparado não é só sobre saber se proteger, mas também sobre saber respeitar as histórias e as vidas que encontramos pelo caminho. Não apenas um fim de curso, mas a confirmação de que, em cinco dias, saí de lá com uma nova perspectiva sobre minha profissão e sobre mim mesma.






Neste Dia do Soldado, guardo comigo a maior lição dessa semana: quem escolhe contar histórias em áreas de risco precisa mais do que coragem, precisa de preparo, empatia e responsabilidade. Porque, no fim, a notícia só tem valor se conseguirmos voltar para contá-la.
Foto de capa: Juliana Monteiro