Arthur Maximilliano

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Entre todas as ferramentas de gestão, poucas são tão subestimadas e tão mal utilizadas quanto o feedback. Muitos empresários acreditam que feedback é um ato de cuidado, quase um gesto de gentileza com a equipe. Outros evitam completamente, com medo de conflito, desgaste ou perda de clima organizacional. Na prática, feedback não é gentileza, é responsabilidade direta de liderança. Empresas que não sabem dar feedback não têm problema de comunicação, têm problema estrutural de gestão que vai cobrar caro mais cedo ou mais tarde.

Quando um líder deixa de dar feedback, algo acontece silenciosamente dentro da empresa: o comportamento inadequado passa a parecer completamente aceitável. A ausência de conversa vira validação implícita de tudo que está errado. O colaborador aprende sem perceber que atrasar não tem consequência real, que errar não é discutido com seriedade, que resultados medianos são tolerados indefinidamente, que conflitos são empurrados para frente até virarem crises. Com o tempo, o empresário se pergunta frustrado: por que minha equipe não evolui, por que as pessoas não crescem, por que continuamos patinando nos mesmos problemas? A resposta é simples e dolorosa: porque ninguém ensinou como fazer diferente, ninguém apontou o caminho, ninguém teve coragem de conversar.

Existe um erro conceitual grave no mercado brasileiro: associar feedback apenas a erro, a bronca, a correção negativa. Feedback também é reforço de comportamento certo que precisa ser repetido, ajuste de expectativa que ficou desalinhada, clareza de prioridade que se perdeu no meio do caos, direcionamento estratégico de crescimento individual e coletivo. Empresas maduras usam feedback para alinhar rota constantemente, não para punir desvio quando já é tarde demais. Sem feedback consistente, cada pessoa trabalha com sua própria interpretação do que é bom trabalho, do que realmente importa, de onde está acertando ou errando.

O custo da ausência de feedback não aparece no DRE, não vira linha no balanço, não é discutido em reunião de resultado. Mas aparece disfarçado em retrabalho constante, conflitos velados que envenenam o ambiente, líderes sobrecarregados porque ninguém mais sabe trabalhar sozinho, turnover evitável de gente boa que foi embora por falta de direção, clima pesado que ninguém consegue explicar direito, decisões centralizadas porque o dono não confia que a equipe entendeu o padrão. Empresas que vivem apagando incêndio todos os dias geralmente não têm problema de gente, têm problema de conversa que nunca aconteceu.

Feedback bom não precisa ser longo, não precisa ser formal, não precisa ser pesado ou traumático. Precisa ser claro o suficiente para não gerar dúvida, próximo do fato para não perder contexto, focado no comportamento e não na pessoa, orientado ao futuro e não preso no passado. Uma pergunta simples resolve mais do que reuniões intermináveis: quando isso acontece, o impacto é esse, o que podemos ajustar a partir daqui? Essa estrutura básica transforma feedback em ferramenta prática de evolução, não em momento constrangedor que todo mundo quer evitar.

Todo empresário chega em um ponto da jornada em que precisa escolher conscientemente: ou mantém a harmonia superficial que agrada todo mundo mas não constrói nada, ou tem coragem de construir maturidade real através de conversas difíceis. Feedback é desconfortável no curto prazo, ninguém gosta de dar e ninguém gosta de receber. Mas o silêncio cobra juros altíssimos no longo prazo, e esses juros vêm em forma de demissões evitáveis, crises desnecessárias, oportunidades perdidas. Empresas fortes não são aquelas sem conflito, são aquelas que sabem conversar antes que o conflito vire ruptura irreversível.

Feedback não é um favor que você faz quando está de bom humor. Não é gentileza opcional. Não é algo para quando der tempo ou quando a situação ficar insustentável. É parte essencial, inegociável, do trabalho de liderar pessoas e construir organizações maduras. Empresas que aprendem a dar feedback cedo, que criam cultura de conversa franca e construtiva, crescem com menos desgaste, menos drama desnecessário e muito mais clareza de direção. As que evitam sistematicamente, que preferem o silêncio confortável, crescem apenas quando crescem, sempre no limite da exaustão, sempre perdendo gente boa pelo caminho. No fim das contas, gestão é exatamente isso: ter conversas difíceis no tempo certo, para evitar decisões duras e irreversíveis no tempo errado.

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Arthur Maximilliano

Arthur Maximilliano é sócio fundador e diretor de estratégia da RetenMax. Formado em Engenharia de Produção pela UFMS, Arthur complementa sua formação acadêmica com especializações em Marketing Digital e Business Intelligence. Atualmente, está desenvolvendo-se com MBA em Inteligência Artificial pelo IBMEC. | @arthurmaxnl
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