sábado, 28/12/2024, 13:40

Quando eu tinha a idade escolar, isso faz mais de vinte e cinco anos, as escolas estavam investindo em sala de informática. Nada mais era do que uma sala com vários computadores para que os alunos aprendessem a utilizar. A proposta educacional era inserir a tecnologia na rotina dos estudantes. Porém, muitas vezes usávamos o computador da escola para ficar desenhando no paint, um aplicativo que permitia fazer desenhos e colorir a tela. 

Hoje a maioria das escolas não tem mais esse espaço, a tecnologia avançou tanto que o computador está na palma da mão e com aplicativos e jogos on-line muito mais divertidos do que o paint. Devido a democratização dos smartphones, é raro encontrar um adolescente que não tenha um aparelho. O nosso país tem leis, federais, estaduais e municipais que proíbem o uso de celular em sala, a não ser que o professor tenha planejado uma pesquisa utilizando smartphone. 

Há um relato muito interessante sobre a justificativa do Projeto de Lei n.º 2.246-A, de 2007 do deputado Pompeo de Mattos, que veda o uso de celulares em escolas públicas de todo país. “Segundo professores é constante a troca de “torpedos” entre alunos dentro da sala de aula e também para amigos de outra sala. Muitos deixam o celular no modo silencioso e às vezes não resistem quando recebem uma ligação e atendem, sussurrando em voz baixa. Outros relatos indicam que muitos utilizam o telefone para jogar, já que praticamente todos os modelos trazem opções de vários “games”. Há relatos de estudantes que usam o celular para colar nas provas, através de mensagens de texto e também armazenando a matéria no próprio aparelho.” 

Repare que esse texto da lei é de 2007, época em que os celulares tinham pouquíssimos recursos.  Agora pense em como é desafiador para os professores terem a atenção dos alunos, quando todos estão com um celular no bolso e uma infinidade de aplicativos, jogos, redes sociais, acesso ilimitado ao mundo através da internet. 

O uso do celular em sala é proibido, mas a maioria dos alunos não se controlam. Na verdade, eles não têm a maturidade para lidar com isso. Esse controle é difícil até para nós adultos, imagina para um adolescente. O simples fato de o aparelho vibrar no bolso com uma mensagem é o suficiente para que a atenção na aula se disperse. Não é preciso argumentar muito para que concordemos que o uso em sala é prejudicial para aprendizagem. 

Porém, eu vou além da sala, o que eles acessam na internet ou jogam no intervalo e depois que as aulas acabam?  Esse é um ponto de muita preocupação, pois a diversidade se encontra na escola. Há famílias que têm um controle de tudo que os filhos consomem na internet, outras não. Inclusive já presenciei muitos casos de crianças de 10 e 11 anos que acessavam conteúdo adulto ou estavam jogando algo que não era propício para a idade.  Durante o intervalo eles ficam em pequenos grupos usando celular, nesses momentos não tem como a escola ter o controle do que estão vendo. 

Outros aspectos afetados são o relacionamento interpessoal, socialização e as brincadeiras que deixam de ser realizadas por estarem no celular. Essas brincadeiras auxiliam no desenvolvimento físico, pois eles poderiam correr, jogar futebol, pular cordas entre outros, mas estão presos à tela. 

Os motivos citados acima me fazem crer que o melhor que podemos fazer pelas nossas crianças e adolescentes no ambiente escolar é proibir o uso de celular em todo o espaço, não apenas em sala. Tenho certeza de que não fará falta, pois em outros momentos eles poderão utilizar. Muito tem sido falado sobre os danos que as telas causam nas crianças, o problema é que os prejuízos são revelados depois de muito tempo. Eu não quero esperar para ver as consequências, e você?

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Marcos de Amorim

Marcos de Amorim é formado em pedagogia, tem MBA em Gestão de Negócios Aplicada à Educação, é mestrando em Educação. Trabalha há 11 anos na Educação Adventista. Foi Professor, Coordenador Disciplinar, Orientador Educacional e está como Diretor há 6 anos.