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Nasci em um tempo em que brincar na rua era o auge da liberdade. Depois, vi o mundo mergulhar em telas, redes, nuvens e, agora, cérebros artificiais. Ao longo dessa jornada, observei o surgimento e a ascensão de várias gerações, dos Baby Boomers aos Alphas, cada uma moldada pelas grandes transformações do seu tempo. Mas agora, uma nova página está sendo escrita, a chegada da Geração Beta, nascida a partir de 2025.

Sim, os Betas estão chegando. Ainda bebês ou nem nascidos, eles já despertam interesse de futuristas, pesquisadores e estrategistas de mercado. O motivo? Eles serão os primeiros nativos da era da inteligência artificial, crescendo em um mundo onde o “normal” será hiperconectado, automatizado e cada vez mais instável. Segundo a WGSN (Worth Global Style Network), até 2035, os Betas representarão 16% da população global. Uma parcela pequena, mas com impacto potencial gigantesco.

Mas o que isso significa para nós, empreendedores, líderes e educadores?

Significa que precisamos nos antecipar, entender desde já os códigos culturais, emocionais e comportamentais dessa geração. Os Betas nascerão em um planeta em crise climática, vivendo os efeitos de decisões tomadas muito antes deles nascerem. Estarão cercados por conteúdo gerado por IA. Estimativas indicam que, até 2026, 90% do que consumimos online será criado por algoritmos. Serão, portanto, filhos de um tempo onde o real e o falso se confundem em pixels perfeitamente manipulados.

E isso trará uma questão central, em um mundo de hiperautomação e deepfakes, o que será considerado autêntico?

Talvez a resposta venha, ironicamente, de um movimento de volta às origens. A própria Geração Z, pais dos Betas, já demonstra uma crescente fascinação por experiências analógicas, pela tecnologia “low-fi”, por conexões reais, olho no olho. Isso pode se amplificar ainda mais nos Betas, gerando um comportamento contra-intuitivo, uma romantização do passado como forma de resistência ao presente digitalizado.

Imagine crianças que crescerão cercadas por veículos autônomos, mas que sonharão em dirigir um carro manual. Ou jovens que poderão fazer viagens imersivas no metaverso, mas que preferirão colocar o pé na trilha do Parque Ecológico do Rio Formoso e sentir o cheiro da natureza. Paradoxal? Nem tanto. É o reflexo da alma humana tentando manter-se viva em um mundo dominado pela máquina.

No entanto, a Geração Beta não será marcada apenas pela tecnologia. O desafio demográfico também será central. Estudos apontam para uma possível queda histórica na taxa de natalidade em diversos países, inclusive o Brasil, que deve ter um dos menores índices populacionais da sua história nas próximas décadas. Os Betas podem se tornar a geração mais numericamente pequena de todos os tempos, uma “micropopulação”. Isso, somado ao envelhecimento acelerado da população, alterará profundamente o mercado de trabalho, a previdência, os modelos educacionais e, claro, o consumo.

Se hoje já sentimos a pressão por inovação e adaptação constante, imagine em 2040, quando os primeiros Betas entrarem no mercado de trabalho. Eles não apenas usarão IA, como pensarão com IA. Crescerão aprendendo que o robô é um parceiro, não um competidor. E isso mudará tudo, do modelo de gestão à forma como treinamos nossos times e desenvolvemos novos produtos.

Como podemos nos preparar?

  • Eduque para o pensamento crítico. Em um mar de dados manipuláveis, quem souber filtrar, interpretar e questionar será rei ou, no caso, mentor dos Betas.
  • Valorize o humano. A empatia, a criatividade, o cuidado, a intuição, tudo isso será escasso e, portanto, ainda mais valioso.
  • Invista em autenticidade. Marcas que forem percebidas como falsas serão descartadas. As que forem genuínas, ganharão fãs, não apenas clientes.
  • Observe os sinais. As gerações não chegam de repente, elas vão se desenhando aos poucos. As mudanças já começaram.

Como dizia o futurista Alvin Tojler: “Os analfabetos do século XXI não serão os que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.”

Os Betas, com sua visão de mundo moldada pela IA, pelos desafios ambientais e por novos modelos de convivência, serão os protagonistas de um novo ciclo da humanidade. E nós, se quisermos permanecer relevantes, precisamos fazer parte dessa construção agora.

DIJAN DE BARROS

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Dijan de Barros

Empreendedor, especialista em gestão e marketing, apresentador, palestrante, TEDxOrganizer, fundador do Café com Negócios e Diretor da Totvs Oeste | @dijanbarros
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