Em 2025, o Brasil vive um cenário preocupante: o consumo de medicamentos para lidar com estresse, ansiedade e burnout mais do que dobrou. Pesquisa realizada pela The School of Life e pela consultoria Robert Half aponta que 52% dos líderes e 59% dos liderados recorrem a psicofármacos como estratégia para enfrentar a pressão do cotidiano. Esses números mostram que o sofrimento emocional deixou de ser restrito a determinados cargos ou perfis e se tornou um fenômeno generalizado dentro das empresas. Entre os fatores mais citados estão a sobrecarga de trabalho, a pressão excessiva por resultados e os conflitos interpessoais.
O quadro se agrava quando se observa a automedicação, muitas vezes baseada em informações superficiais obtidas em ferramentas digitais, somada ao tabu de falar abertamente sobre saúde mental no ambiente corporativo. De acordo com a mesma pesquisa, quase três quartos dos gestores preferem esconder o uso de medicamentos, o que reforça o isolamento e dificulta a criação de uma cultura organizacional mais saudável. O impacto ultrapassa a dimensão individual: afastamentos por questões emocionais cresceram mais de 140% e já representam custos significativos para a economia global.
É nesse contexto que se revela a importância de uma liderança capaz de equilibrar resultados com humanidade. O cuidado com a própria saúde não é apenas uma escolha pessoal, mas uma necessidade estratégica. Um líder que reconhece seus limites e busca apoio profissional tem mais condições de reorganizar processos, rever práticas de gestão, reduzir a sobrecarga da equipe e construir ambientes psicologicamente seguros. Atitudes simples, como abrir espaço para conversas sobre bem-estar, estimular hábitos saudáveis, investir em acompanhamento especializado e valorizar momentos de descanso, fazem diferença na qualidade das relações e na sustentabilidade do negócio.
Buscar equilíbrio não significa reduzir ambição ou potencializar fragilidades. Significa resgatar propósito. Nesse sentido, o conceito japonês de Ikigai pode oferecer inspiração. Ikigai é a interseção entre aquilo que amamos, aquilo em que somos bons, o que o mundo precisa e o que pode ser remunerado. É um convite para refletir sobre a razão de ser que orienta nossas escolhas e ações. Quando aplicado à liderança, ajuda a alinhar decisões, motiva equipes e fortalece vínculos.
Ao final, toda inovação, tecnologia e produto existem para servir pessoas. Cuidar de quem lidera e de quem é liderado não é apenas um gesto de humanidade, mas uma forma de garantir negócios mais consistentes e preparados para o futuro. O desafio que se impõe não é somente tratar sintomas, mas cultivar uma cultura que valorize prevenção, apoio e equilíbrio. Afinal, organizações são feitas de pessoas, e pessoas saudáveis constroem resultados sustentáveis.