Aumento de gases de efeito estufa e recordes de temperatura indicam avanço das mudanças climáticas; relatório serve de base para negociações na COP3
O planeta deve encerrar 2025 como o segundo ou, no máximo, o terceiro ano mais quente já registrado desde o início das medições, há 176 anos. É o que mostra o novo Relatório sobre o Estado do Clima Global, divulgado nesta quinta-feira (6) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
De janeiro a agosto deste ano, a temperatura média global próxima à superfície ficou 1,42 °C ± 0,12 °C acima dos níveis pré-industriais, o que confirma a tendência de aquecimento observada nas últimas décadas. Segundo a OMM, o período entre 2015 e 2025 será recordista, com cada um dos últimos onze anos figurando entre os mais quentes da história.
“Essa sequência sem precedentes de altas temperaturas, combinada com o aumento recorde dos níveis de gases de efeito estufa no ano passado, deixa claro que será praticamente impossível limitar o aquecimento global a 1,5 °C nos próximos anos sem ultrapassar temporariamente essa meta”, afirmou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.
Ela ponderou, no entanto, que “a ciência também é clara ao afirmar que ainda é totalmente possível e essencial reduzir as temperaturas para 1,5 °C até o fim do século”.
Calor em alta e impactos em cascata
O relatório indica que as concentrações de gases de efeito estufa continuaram a crescer em 2025, assim como o conteúdo de calor nos oceanos. A extensão do gelo marinho do Ártico, após o congelamento de inverno, foi a menor já registrada, enquanto na Antártida o gelo permaneceu bem abaixo da média durante todo o ano.
A OMM também aponta que o nível do mar segue em elevação, ainda que com pequenas oscilações temporárias causadas por fatores naturais. Em paralelo, eventos climáticos extremos como chuvas intensas, inundações, ondas de calor e incêndios florestais, tiveram efeitos em cascata sobre populações e economias, provocando deslocamentos, perdas econômicas e retrocesso em metas de desenvolvimento sustentável.
COP30 e o alerta global
Divulgado às vésperas da COP30, realizada em Belém (PA), o relatório da OMM tem o objetivo de servir como base científica para as negociações internacionais sobre clima.
Em discurso na conferência, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, reforçou a gravidade do cenário. “Cada ano acima de 1,5 grau prejudicará as economias, aprofundará as desigualdades e causará danos irreversíveis”, afirmou.
“Devemos agir agora, com grande rapidez e em grande escala, para que esse aumento seja o menor, o mais curto e o mais seguro possível e para que as temperaturas voltem a ficar abaixo de 1,5 °C antes do final do século”, completou.
Contexto histórico
De acordo com a OMM, a última década marca uma virada histórica na observação climática: nunca antes o planeta registrou tantos anos consecutivos com temperaturas recordes. Especialistas associam esse quadro à queima de combustíveis fósseis, ao desmatamento e ao uso intensivo de energia e transporte baseados em carbono.
O documento alerta que, sem mudanças rápidas e estruturais nas políticas de emissão e nos padrões de consumo global, o limite de aquecimento de 1,5 °C, estabelecido pelo Acordo de Paris, poderá ser ultrapassado ainda nesta década, com consequências diretas sobre a segurança alimentar, a saúde pública e a economia mundial.
A OMM reforça que, apesar dos sinais alarmantes, ainda há espaço para ação efetiva. “Reduzir emissões, proteger ecossistemas e investir em energia limpa são medidas que podem mudar o rumo do aquecimento global”, conclui o relatório.
Com informações e imagem da Agência Brasil


















