Brasil havia deixado a lista em 2023, com o avanço nas imunizações, mas número de crianças não vacinadas contra a DTP voltou a subir
O Brasil retornou ao ranking de países com alto número de crianças não-vacinadas. O relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Unicef utiliza a vacina tríplice bacteriana, que protege contra tétano, difteria e coqueluche, como indicador de acesso a imunização e serviços de Saúde. O país havia deixado o ranking após a retomada das campanhas vacinais, em 2023.
“A queda na vacinação é preocupante”, afirma Ivone Amazonas, coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde do Neonato e da Criança do Cofen. Em 2023, eram 103 mil brasileirinhos não vacinados; o total chegou a 229 mil em 2024. O Programa Nacional de Imunização (PNI) inclui administração da pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae aos 2, 4 e 6 meses. A vacina DTP é administrada aos 15 meses e aos 4 anos, como reforço.
“É preciso mapear as razões desses bebês não estarem sendo vacinados e adotar estratégias para chegar a essas famílias” , afirma Ivone. As gestantes devem ser imunizadas com a DTPa, também disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). A estratégia tem efeito protetivo sobre os recém-nascidos.
A eficácia da vacina em reduzir a circulação e gravidade de doenças pode levar a uma percepção equivocada de segurança. “A vacinação reduziu os casos, mas são doenças graves, ainda em circulação”, reforça Ivone.
O Brasil registrou mais de 7.440 casos confirmados de coqueluche em 2024. Denominada popularmente “tosse comprida”, a coqueluche se caracteriza por crises de tosse seca incontroláveis, intercaladas com a ingestão de ar, que podem provocar um som agudo, similar guincho ou chiado.
Chamado “mal de 7 dias” pela alta incidência neonatal e letalidade, o tétano permeia o imaginário popular. A vacina reduziu drasticamente os casos, mas não eliminou a doença. Em 2022, 2023 e 2024 foram confirmados 188, 205 e 219 casos de tétano no Brasil, quase todos entre idosos e adultos. A letalidade permanece altíssima: 26,60%, 29,27% e 26,94%.
A última morte confirmada por difteria no Brasil aconteceu em 2017, em Roraima/Boa Vista, de uma criança de 10 anos proveniente da Venezuela.
Estagnação da cobertura vacinal no mundo
Nove em cada dez crianças receberam pelo menos uma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, e 85% completaram as três doses. Outras 5,6 milhões estão parcialmente vacinadas.
Dentre os 195 países analisados, 131 países mantiveram, de forma consistente, a taxa vacinal acima de 90% para primeira dose da vacina DTP desde 2019. Não houve, porém, expansão significativa desta grupo. Dentre os países que alcançaram a meta mínima de 90% de cobertura, somente 17 conseguiram aumentar suas taxas de cobertura nos últimos cinco anos. Em 47 países, o progresso está estagnado ou piorando.
Acesso desigual
Em todo o mundo, são 14,3 milhões de crianças que não receberam sequer uma dose da tríplice bacteriana. Mais da metade (55%) dessas crianças vivem em 10 países: Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Sudão e Iêmen.
“Os dados mostram que conflitos e crises humanitárias podem erodia rapidamente o progresso na vacinação”, afirma comunicado da Organização Mundial de Saúde. Há, porém, avanços. A cobertura de imunização nos 57 países de baixa renda apoiados pela iniciativa global Gavi melhorou no ano passado.
A cobertura contra sarampo permanece crítica. Em 2024, 84% das crianças de 2 anos tinham recebido uma dose da vacina e 76% haviam recebido duas doses. 191 países incluem o sarampo em seu calendário vacinal.
A cobertura vacinal para febre amarela em países de risco foi de apenas 50%, bem abaixo da recomendação de 80%. O relatório aponta, ainda, a eficácia da vacina contra malária na prevenção de mortes e recomenda sua expansão. A doença ainda é uma causa significativa de morte de crianças na África subsaariana.
O relatório aponta uma cobertura vacina de 31% da vacina contra HPV entre meninas, um avanço significativo em relação aos 17% registrados em 2019, mas ainda distante do alvo de 90% em 2030. O HPV é responsável por quase 100% dos casos de câncer do colo do útero, o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres brasileiras. Além disso, o vírus pode causar câncer no ânus, pênis, vagina e garganta.
Com informações do Cofen
Foto: Erasmo Salomão/MS