A campanha Dezembro Vermelho, dedicada à prevenção do HIV/Aids, reacende o debate sobre os cuidados com a saúde sexual. Especialistas afirmam que as Infecções Sexualmente Transmissíveis vão além do HIV e exigem atenção ampliada, sobretudo porque muitas delas evoluem de forma silenciosa e só são identificadas por meio de testagem periódica.
Infecções como sífilis, clamídia, HPV e hepatites virais podem permanecer sem sintomas por longos períodos e, quando não tratadas, causar complicações graves, como infertilidade, danos neurológicos e câncer. A recomendação dos profissionais é clara: a prevenção precisa incluir check-ups regulares e um pacote de medidas combinadas.
“Muitas pessoas associam a testagem de ISTs apenas ao HIV, mas há um universo de outras infecções que precisam de atenção. A sífilis, por exemplo, tem registrado um aumento alarmante de casos no Brasil e pode ser facilmente diagnosticada e tratada com um simples exame de sangue”, afirma Luciana Campos, consultora médica e infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde.
Para ela, o diagnóstico precoce é decisivo tanto para o tratamento quanto para a redução da transmissão. “A testagem periódica é uma das mais importantes ferramentas de cuidado, pois permite que o indivíduo conheça sua condição de saúde, receba o tratamento correto e proteja seus parceiros”, complementa.
O que deve incluir um check-up de saúde sexual
De acordo com especialistas, o check-up deve ser orientado por um profissional de saúde e incluir exames como:
- HIV 1 e 2, preferencialmente testes de quarta geração;
- Sífilis (VDRL e testes treponêmicos);
- Hepatites B e C;
- HPV, por meio de testes moleculares e Papanicolau;
- Clamídia e gonorreia, infecções bacterianas comuns e frequentemente assintomáticas;
- Herpes simples (tipos 1 e 2).
Esses exames permitem identificar a maior parte das ISTs de circulação comum no país e orientar tratamentos precoces.
Prevenção combinada
A testagem regular, segundo os especialistas, deve ser acompanhada de outras estratégias preventivas. O uso de preservativos (masculino ou feminino) continua sendo o método mais eficaz contra a maioria das ISTs. Outro recurso é a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), indicada para pessoas com risco aumentado de infecção pelo HIV.
Vacinas também fazem parte do pacote de prevenção, especialmente as que protegem contra HPV e Hepatite B. O diálogo com parceiros sexuais e com equipes de saúde é apontado como um pilar adicional para reduzir riscos.
“Mais do que uma campanha de conscientização, o Dezembro Vermelho é um lembrete sobre o valor do autocuidado. Informação, prevenção e testagem são pilares para uma vida saudável e responsável”, conclui Luciana.
Embora o Brasil tenha avançado no tratamento do HIV, o país vive um aumento expressivo de outras ISTs. Dados do Boletim Epidemiológico de 2023 apontam cerca de 36,7 mil novos casos de HIV. A queda nos registros de Aids, estágio avançado da infecção, é atribuída à ampliação do acesso ao tratamento antirretroviral. A epidemia, porém, segue concentrada em populações-chave e avança entre jovens de 15 a 29 anos.
A sífilis apresenta o panorama mais crítico. Em 2022, foram notificados mais de 213 mil casos de sífilis adquirida. Já a sífilis congênita, transmitida durante a gestação, registrou 27 mil casos e segue associada a mortes e sequelas graves em recém-nascidos.
As infecções por HPV continuam amplamente disseminadas. Estudos indicam que mais da metade dos jovens sexualmente ativos no país está infectada pelo vírus, principal causador do câncer de colo do útero. O INCA estima mais de 17 mil novos casos desse tipo de câncer por ano no Brasil.
Em relação às hepatites virais, 2022 registrou 13,5 mil novos casos de Hepatite B e 23,7 mil de Hepatite C. Enquanto a vacina para Hepatite B é considerada altamente eficaz, o maior desafio para Hepatite C continua sendo o diagnóstico tardio, já que a doença pode se manter assintomática por anos.
Clamídia e gonorreia, apesar de estarem entre as principais ISTs bacterianas, sofrem com forte subnotificação, ambas não fazem parte da lista de agravos de notificação compulsória. A falta de dados oficiais impede dimensionar com precisão a incidência no país.
Com o avanço de diferentes infecções e a persistência de lacunas na prevenção, a campanha Dezembro Vermelho reforça a mensagem de que o cuidado com a saúde sexual deve ser contínuo, abrangente e baseado em informação confiável.
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