Maynara Martins

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O jejum intermitente (JI) tem conquistado adeptos ao prometer queimar gordura de forma rápida e prática. Mas esse ato, além de alterar o metabolismo da glicose e da gordura, interfere em hormônios-chave como o cortisol — fundamentais para nosso ritmo biológico e bem‑estar.

1. O que é jejum intermitente?

JI não é uma dieta específica, mas um padrão alimentar: alterna‑se períodos em que se jejua (por exemplo, 16 horas) e janelas de alimentação (por exemplo, 8 horas). Protocolos populares incluem:

  • 16/8 (16 horas sem comer, 8 horas com liberdade calórica)
  • 5:2 (dias de restrição severa – 500–600 kcal – intercalados com dias de alimentação normal)
  • Jejum em dias alternados

O objetivo é reduzir a ingestão calórica global e forçar o corpo a recorrer às reservas de gordura.

2. Cortisol e o café da manhã: o alicerce do ritmo circadiano

Logo ao acordar, nosso organismo exibe o “pico de cortisol” — um aumento natural que nos ajuda a despertar, regular o humor e iniciar a produção de energia. Fazer a primeira refeição pela manhã:

  • Suprime parte desse pico, evitando que o cortisol permaneça elevado por muito tempo (o que, a longo prazo, pode causar insônia, ansiedade e desgastes metabólicos).
  • Reequilibra o eixo HPA (hipotálamo‑pituitária‑adrenal), ou seja, normaliza a comunicação entre cérebro e glândulas adrenais, reduzindo a liberação excessiva de cortisol e, com isso, o impacto do estresse crônico no corpo.

Ao pular o café da manhã, prolongamos níveis elevados de cortisol, o que pode gerar:

  • Hiperglicemia de jejum, pois o cortisol estimula a produção de glicose pelo fígado;
  • Catabolismo proteico, já que o corpo, sob ação do cortisol, pode usar aminoácidos musculares para gerar energia;
  • Maior sensação de ansiedade e irritabilidade, pela hiperestimulação do sistema de estresse.

3. Outros hormônios e mecanismos bioquímicos afetados

  1. Insulina e glucagon: JI reduz a insulina circulante, melhorando a sensibilidade, mas eleva o glucagon, que estimula a liberação de glicose e lipólise. Em curto prazo, isso queima gordura; em longo prazo, pode provocar descompassos glicêmicos.
  2. Grelina e leptina: Jejuns prolongados aumentam a grelina (hormônio da fome) e podem reduzir a leptina (saciedade), levando a episódios de compulsão quando a janela de alimentação se inicia.
  3. Hormônios da tireoide: Em tempos de restrição calórica, há redução nos níveis de T3 (triiodotironina), o que desacelera o metabolismo basal — um mecanismo de “economia de energia” que dificulta a manutenção do peso perdido.
  4. Autofagia e reparo celular: Períodos sem comida ativam processos de limpeza e renovação celular (autofagia), potencialmente benéficos para longevidade. Porém, a falta de nutrientes essenciais pode comprometer essas vias se o jejum for excessivo ou mal estruturado.

4. Benefícios x riscos: quem realmente lucra e quem perde?

Benefícios comprovados (em curto prazo)

  • Redução de gordura corporal e melhoria de marcadores glicêmicos.
  • Potencial aumento da autofagia e proteção contra estresse oxidativo.

Riscos e malefícios

  • Desequilíbrio hormonal: cortisol, hormônios tireoidianos e do apetite fora de compasso.
  • Perda de massa magra, sobretudo em jejuns muito longos ou sem ingestão adequada de proteínas.
  • Compulsão alimentar, com ciclos de restrição e exageros que comprometem o metabolismo e a saúde mental.
  • Impacto no sono e no humor, pela manutenção de cortisol elevado e alterações na liberação de melatonina.

Além disso, quem adota o JI sem reeducação alimentar e sem atividade física adequada tende a recuperar todo o peso perdido assim que retoma horários de alimentação “normais”.

5. Quem deve ter cautela ou evitar o JI

  • Pessoas com distúrbios de ansiedade e histórico de transtornos alimentares.
  • Quem sofre de hipotireoidismo ou outras condições endócrinas sensíveis à alimentação.
  • Gestantes, lactantes, crianças e idosos, que têm maiores necessidades nutricionais.
  • Atletas e praticantes de alta demanda física, pois a performance pode ser comprometida.

Conclusão: jejum intermitente como ferramenta, não como regra

O jejum intermitente pode funcionar como um atalho inicial para perda de peso e introduzir benefícios metabólicos, mas não é um “milagre” que dispensa escolhas saudáveis. Manter níveis equilibrados de cortisol — começando o dia com uma refeição adequada — e respeitar o relógio biológico são tão importantes quanto as horas sem comer.

Para resultados duradouros, o JI deve ser acompanhado de alimentação balanceada, ingestão adequada de proteínas e micronutrientes, prática regular de exercícios e atenção ao descanso. Só assim ele deixa de ser uma “moda momentânea” e se integra a um estilo de vida verdadeiramente saudável. Busque orientação de um profissional nutricionista para te auxiliar em todo o processo de uma vida mais saudável e para alcançar seus objetivos.

Os artigos publicados são de responsabilidade dos colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Total News

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Maynara Martins

Nutricionista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pós-graduanda em Nutrição Clínica Integrativa Funcional. Especializada em emagrecimento e ganho de massa muscular, atua com foco em estratégias personalizadas, ajudando seus pacientes a alcançar resultados sustentáveis e melhorar a relação com a alimentação. Sua abordagem é baseada na ciência e no equilíbrio, promovendo saúde e bem-estar de forma integrada. | @nutri.maynara
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