A jornada de trabalho moderna perdeu fronteiras. Com o avanço da inteligência artificial e das dinâmicas de trabalho híbrido, empresas enfrentam um novo obstáculo à produtividade: a rotina profissional não tem mais hora para começar nem para terminar.
É o que aponta o Relatório Especial do Índice de Tendências de Trabalho 2025, divulgado nesta terça-feira (17) pela Microsoft. Baseado em sinais anônimos do Microsoft 365 no mundo todo, o levantamento revela uma sobrecarga de reuniões, mensagens e notificações que fragmenta a atenção dos trabalhadores e compromete o foco.
“Estamos diante de uma jornada de trabalho infinita. Sem uma mudança estrutural no ritmo do trabalho, a IA corre o risco de acelerar um sistema falido”, diz o relatório.
Segundo o estudo, o dia começa cedo para muitos: às 6h, 40% dos usuários online já estão verificando e-mails. O trabalhador médio recebe 117 mensagens por dia e 153 notificações do Teams, o que gera uma rotina marcada por interrupções constantes.
A concentração se torna cada vez mais rara. Entre 9h e 11h e das 13h às 15h, picos naturais de produtividade, segundo estudos de ritmos circadianos, o tempo é tomado por reuniões. As terças-feiras concentram 23% desses encontros, enquanto sextas-feiras registram apenas 16%.
A dispersão, contudo, não se limita à agenda. “Os modos de comunicação mudaram. A coordenação ficou mais complexa e a carga mental, mais pesada”, afirma a Microsoft. Mais da metade das reuniões são chamadas em cima da hora, sem convite formal. E quase um terço dos encontros ocorrem entre fusos horários distintos, aumento de 35% desde 2021.
A fragmentação se intensifica com a pressão de “última hora”. As edições de apresentações no PowerPoint, por exemplo, aumentam 122% nos dez minutos que antecedem uma reunião.
À noite, a atividade continua. Reuniões após as 20h cresceram 16% em um ano, e 29% dos usuários ativos voltam à caixa de entrada às 22h. Nos fins de semana, quase 20% dos funcionários checam e-mails pela manhã, e 5% voltam a usá-los no domingo à noite.
Para a Microsoft, esses dados indicam que “muita energia está sendo gasta para organizar o caos antes que o trabalho significativo possa começar”. A consequência é visível: 48% dos funcionários e 52% dos líderes se sentem presos a uma rotina caótica e improdutiva.
A proposta da Microsoft para enfrentar o desafio passa por três frentes: aplicar a regra 80/20 para concentrar esforços no que realmente gera impacto, redesenhar estruturas de equipe com base em metas e agilidade (o chamado “Gráfico de Trabalho”) e investir na formação de profissionais capazes de liderar e operar agentes de IA — os chamados “chefes de agentes”.
Confira aqui o relatório completo.
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